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Cai neve em Portugal e os gregos vão à praia: o que se está a passar? Aquecimento do Ártico, ventos e as alterações climáticas explicam

Cai neve em Portugal e os gregos vão à praia: o que se está a passar? Aquecimento do Ártico, ventos e as alterações climáticas explicam
PEDRO SARMENTO COSTA

“Estes eventos extremos, de alguns dias ou de poucas semanas de invernos exageradamente quentes ou exageradamente frios, estão a acontecer com maior frequência nos últimos tempos devido ao aquecimento global”, explica ao Expresso um especialista em Meteorologia e Clima. E avisa: o clima gélido deverá continuar no país pelo menos mais sete dias

A beleza e as complicações que costumam chegar de mão dada com a neve pintam os telejornais e as redes sociais. Nevou no Alentejo, espanta-se a população portuguesa, enquanto na Grécia há quem vá à praia para desfrutar da máxima de 26ºC. As temperaturas baixas trazem questões várias, não só ao nível do aperto nos ossos mas também quanto à pobreza energética e à fraca eficiência energética das residências do país. Afinal, o que se está a passar?

“Estes eventos extremos, de alguns dias ou de poucas semanas de invernos exageradamente quentes ou exageradamente frios, estão a acontecer com maior frequência nos últimos tempos devido ao aquecimento global”, explica ao Expresso Alfredo Rocha, professor de Meteorologia e Clima do Departamento de Física da Universidade de Aveiro.

“É um tópico que ainda está em discussão científica”, continua. “Tudo parece indicar que isto é um paradoxo aparente, um resultado do aquecimento global. Ou seja, a teoria que tem mais força no momento é a seguinte: o Ártico está a aquecer muitíssimo mais do que as latitudes mais baixas aqui na Europa e nos trópicos. Os ventos de Oeste para Este, que são ventos predominantes nas latitudes médias, onde nos encontramos até ao Norte da Europa, enfraquecem como resultado desse aumento de temperatura maior no Ártico do que mais a Sul.” Por isso, verificam-se ondulações desses ventos e o que acontece é que, quando estes ventos são mais fracos como resultado do aquecimento excessivo do Ártico, essas ondulações têm maior amplitude, são maiores, trazendo ar frio do Norte para o Sul e ar quente do Sul para o Norte.

“Quanto maior for a amplitude destas ondulações mais isso se verifica. É um paradoxo aparente, mas que parece estar a ser consensual na investigação que é um resultado do aquecimento excessivo do Ártico relativamente às outras regiões. E esse aquecimento excessivo é resultado das alterações climáticas, portanto da maior emissão de gás com efeito estufa de origem humana”, assume Alfredo Rocha.

Este episódio que se tem observado na Península Ibérica (ver AQUI e AQUI o que se está a passar em Madrid), com um inverno rigoroso, levará a que aconteça o oposto noutras zonas do globo, como está a acontecer na Grécia, como já vimos. E é derivado do mesmo fenómeno. “O que não acontece é simultaneamente toda a Europa ou todas as latitudes da Europa estarem com um inverno exagerado”, garante o professor da Universidade de Aveiro. “Há sempre algumas regiões com invernos exagerados e haverá outras, se calhar até na Sibéria ou Estados Unidos, que estarão com invernos mais quentes do que o normal.”

De acordo com este académico, é possível prever-se “com alguma antecedência” a tal oscilação dos ventos e a eventual consequência da mesma, mas “nunca mais de 15 dias”. Este clima deverá continuar pelo menos mais sete dias no país. Estará céu limpo e muito frio, com pouca chuva. A neve poderá continuar a pintar de branco o Interior.

E o que acontece ao tal fenómeno, esfuma-se ou é transportado para outra latitude? “Estas ondulações podem estar estacionárias, podem estar paradas sobre uma determinada região, que é o que está a acontecer na última semana e nesta, mas eventualmente duas coisas poderão acontecer: ou se deslocam para Este ou para Oeste, ou então diminuem a amplitude e o efeito deixa de ser tão extremo.”

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