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Este sábado o Alan Kurdi salvou 90 pessoas, a seguir 24 e depois mais 19: reportagem do Expresso no meio do Mediterrâneo

Este sábado o Alan Kurdi salvou 90 pessoas, a seguir 24 e depois mais 19: reportagem do Expresso no meio do Mediterrâneo

O navio de salvamento e resgate Alan Kurdi, operado pela organização não-governamental Sea-Eye, resgatou este sábado 133 pessoas do centro do Mediterrâneo, entre as quais 19 crianças (uma delas bebé). Reportagem do Expresso a bordo do navio

Este sábado o Alan Kurdi salvou 90 pessoas, a seguir 24 e depois mais 19: reportagem do Expresso no meio do Mediterrâneo

Marta Gonçalves

a bordo do Alan Kurdi

- Vão levar-nos para Itália? - pergunta uma das crianças que acabaram de ser resgatadas.

- Não sei. Não sabemos de nada - responde um dos voluntários do Alan Kurdi.

A criança, até ali a mais calada entre as pessoas resgatadas, faz agora muitas perguntas. A incerteza nas respostas que Jonas lhe dá não a deixam menos desconfiada. Jonas Luedtke é um dos voluntários do Alan Kurdi e também um dos responsáveis pela comunicação direta com os resgatados.

- Bom... o máximo que te posso dizer é que vamos para a Europa. Disso tenho a certeza - diz Jonas à criança.

O menino, que entretanto (e já menos desconfiado) disse ter seis anos e ser da Guiné-Conacri, volta ao silêncio. Mais tarde, e já depois de observar o mar, torna a questionar Jonas:

- O que é que há lá?
- Além de Itália? Tens Alemanha, Espanha, França, Portugal e muitos outros. Na Europa há muitos países.

A criança, da qual ainda não sabemos o nome porque é demasiado cedo para lhe fazer perguntas e por isso apenas ouvimos aquilo que quer dizer e o que lhe apetece contar, acena com a cabeça como quem começa a pensar noutros caminhos para lá daquele que achava que iria fazer. Está descalça, como quase todos os outros - que estão encostados à beira do Alan Kurdi, sempre com o olhar em direção ao mar. O menino está calmo, tranquilo. Calado.

Jonas tenta arrancar-lhe mais duas ou três palavras. Pergunta-lhe se está bem, se lhe dói alguma coisa. "Não. Mas tenho fome." E Jonas responde-lhe apenas "tens de aguentar só mais um bocadinho, há muita gente e temos de organizar tudo, já te damos alguma coisa".

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