Cientistas ouvidos pelo jornal britânico "The Guardian" revelam os seus receios sobre a criação apressada de uma vacina, garantindo que isso poderá fazer reduzir a sua eficácia e, pior, pode agravar ainda mais a pandemia.
Tem havido uma corrida entre várias empresas especializadas e mesmo entre países para virem a ser os primeiros a ter a tão desejada vacina para imunizar a população do novo coronavírus: Rússia, Reino Unido e Estados Unidos estão na linha da frente mas a pressa pode ser um inimigo fatal.
Para Richard Peto, da Universidade de Oxford e conselheiro da Organização Mundial da Saúde, a primeira vacina a aparecer no mercado será comprada e usada em todo o mundo. Mesmo que tivesse uma baixa eficácia e mesmo que protegesse apenas uma minoria da população, seria considerada o padrão pelo qual as vacinas posteriores seriam medidas. Isso poderia até levar à aprovação de vacinas inferiores, porque não teriam que mostrar que eram melhores. “Acho que há uma grande pressa, uma pressa um tanto nacionalista e um tanto capitalista, de ser absolutamente o primeiro a registar uma vacina, e isso tornará realmente mais difícil avaliar outras vacinas", disse Peto. “Precisamos de uma vacina que funcione e precisamos dela em breve”, mas “realmente precisamos de evidências bastante fortes de eficácia”.
Peto é membro do Grupo de Especialistas em Ensaios de Vacinas Solidárias da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O grupo já afirmou que uma vacina má seria pior do que nenhuma vacina. Isto porque as pessoas que a tivessem tomado presumiriam que não estavam mais em risco e não cumpririam o distanciamento social. “A implantação de uma vacina pouco eficaz pode piorar a pandemia se as autoridades assumirem erradamente que ela causa uma redução substancial no risco ou se os indivíduos vacinados acreditarem erradamente que estão imunes”, afirmaram.
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