Sociedade

Pediram socorro durante 20 minutos e MAI está a investigar: a história do incêndio que matou um bombeiro e deixou outros quatro feridos

Pediram socorro durante 20 minutos e MAI está a investigar: a história do incêndio que matou um bombeiro e deixou outros quatro feridos

18h26: uma equipa foi enviada para combater um incêndio “normal”. “Nada fazia prever este desfecho”. Um deles morreu, dois estão feridos com gravidade, outros dois têm ferimentos ligeiros. Ministério da Administração Interna confirma abertura de inquérito

Era um incêndio “normal, em que a coluna de fumo não está inclinada, tocado a vento e atiçado por trovoada seca. Nada fazia prever este desfecho”. O desabafo é de um dos comandantes dos bombeiros da Lousã que às 19h19 começou a escutar as primeiras comunicações “com pedidos de socorro” e, acrescenta, “não fui o único”. O socorro só haveria de chegar 20 minutos depois.

O alerta para o fogo de Trevim, que vitimou um bombeiro e queimou outros quatro, “foi dado às 18h26”, confirma o adjunto de operações no Comando Nacional de Socorro. De imediato “foi analisada a situação e ativado o ataque ampliado” acrescenta Sérgio Trindade. “No reforço enviado para o local, às 19h45 seguia uma equipa de combate a incêndios, de Miranda do Corvo”, com apenas quatro homens. “Entraram pelo flanco esquerdo, vê-se bem que a coluna de fumo não está inclinada e a preocupação foi evitar que o fogo descesse a Castanheira de Pera com perigos maiores”, adianta o oficial.

DR

No local um helicóptero ainda fez descargas, mas o adjunto de operações no Comando Nacional de Socorro esclareceu, em declarações ao Expresso, que os meios aéreos “não tiveram condições de atuar”. Porém, confirmam os bombeiros, o helicóptero enviado para o ataque inicial “ainda fez descargas na cabeça com a equipa de Miranda do Corvo a entrar pelo flanco esquerdo”. Foi às 19h19 que a equipa “começou a pedir socorro. Comunicações pouco percetíveis, mas em que se entendia o desespero”, adianta o oficial dos Bombeiros da Lousã. Na viatura de combate a incêndios florestais estavam quatro homens chefiados pelo chefe José Augusto, “um bombeiro voluntário capaz e funcionário da autarquia”. Dois dos bombeiros conseguiram escapar, outros dois seriam vitimados. Um morreu e outro sofreu queimaduras nos membros inferiores e foi enviado para os Hospitais da Universidade de Coimbra. É este desfasamento, “entre a guarnição da equipa, que deveria ter cinco homens e só tinha quatro” que explica as informações contraditórias.

Luís Antunes, presidente da Câmara da Lousã, adiantava pouco depois das 20 horas “ter a confirmação de uma morte”, mas não saber ainda de mais feridos. O adjunto de operações no Comando Nacional de Socorro adianta que “a situação era difícil em todo o Centro do país”. Sérgio Trindade, que confirma “um morto e um ferido dos Bombeiros de Miranda do Corvo e 3 intoxicados da Corporação da Lousã”, adianta que “se registavam temperaturas elevadas, com ventos fortes e vários focos de incêndios”.

Na frente de fogo a equipa do chefe José Augusto começou a pedir socorro “às 19h19, e todos perceberam que eles estavam cercados pelas chamas”, adianta a fonte dos Bombeiros da Lousã. O socorro enviado já chegou tarde e “depois de um momento de desorientação inicial, quando percebemos o que havia sucedido, confirmámos a morte, adiantou o autarca da Lousã”.

No terreno os bombeiros lamentam a morte. “Este era um fogo fácil, era seguir o protocolo e evitar-se-ia uma morte. Houve pouca experiência no Comando Nacional e seria bom que todos ouvissem as comunicações para perceber o que se pode evitar em havendo experiência”.

Ao Expresso o gabinete do Ministério da Administração Interna confirmou a “abertura de um inquérito para apurar as circunstâncias em que ocorreu a morte do bombeiro" e para "aquilatar da composição da equipa". O MAI lamentou “o momento trágico vivido pelos bombeiros, que de forma generosa integram o esforço nacional na defesa da floresta contra incêndios”.

A morte do chefe José Augusto foi o primeiro óbito registado em operações de combate a incêndios este ano. Na serra da Lousã pede-se “uma investigação isenta ao que aconteceu. Para se aprender alguma coisa e para que não seja mais um em vão”, conclui um dos operacionais de Miranda do Corvo.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate