Porto. Cervejaria Galiza encerrou mesmo: António Ferreira está lá desde 1987 e explica como ainda há uma esperança

Restaurante tinha entrado em insolvência em junho, depois de um período de sete meses a ser gerido “dia a dia” pelos trabalhadores
Restaurante tinha entrado em insolvência em junho, depois de um período de sete meses a ser gerido “dia a dia” pelos trabalhadores
Jornalista
“Não havia condições para continuar.” Assim o decidiram os trabalhadores em conjunto com o administrador de insolvência, que desde junho avaliava a viabilidade do espaço. A Cervejaria Galiza estava desde o início de novembro de 2019 a ser gerida “no dia a dia” pelos trabalhadores, que com o dinheiro feito em caixa pagavam salários e despesas, depois de uma tentativa de encerramento coercivo das instalações pela gestora da empresa, numa segunda-feira, dia de descanso do pessoal. Com dívidas quase a atingir os dois milhões de euros, nessa altura o Galiza já havia deixado de pagar a fornecedores, enquanto as tranches dos salários chegavam com atraso aos funcionários. Antes da tentativa de encerramento, a empresa dona da Cervejaria Galiza, numa tentativa de resolver as dificuldades financeiras, passou pelo recurso a um PER (Processo Especial de Revitalização), aceite pelo Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia.
A 4 de junho, o Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia declarou a insolvência da Sociedade Atividades Hoteleiras Galiza Portuense, proprietária da Cervejaria Galiza, na sequência do requerimento apresentado pela Sociedade Real Sabor, de Vila Nova de Gaia, no qual reclama 11.951 euros, havendo 30 dias para a reclamação de créditos. Segundo o sindicato, o administrador de insolvência reuniu-se na segunda-feira com os trabalhadores, “na sequência da qual decidiu encerrar o estabelecimento por não haver condições para o manter aberto”.
A decisão surge numa altura em que o sindicato aguarda por uma resposta do Governo ao pedido de reunião endereçado logo após ter sido conhecida a sentença, uma vez ser o Estado o maior credor da sociedade detentora da cervejaria, com dívidas acumuladas em novembro de 2019, ao fisco e à segurança social, de cerca de dois milhões de euros.
Mesmo durante a pandemia, o restaurante vendeu em take away. Apesar da quebra na receita e dos salários de abril em atraso, o início do desconfinamento trouxe algum alívio para os trabalhadores, que puderam voltar a atualizar os salários, pondo algumas despesas para segundo plano.
Nesta altura, o dinheiro não chegava para pagar ordenados e também impostos. “As faturas começavam a chegar, tem de se pagar o IVA, tem de se pagar a Segurança Social, e não estávamos a conseguir pagar tudo”, diz ao Expresso António Ferreira, que desde 1987 encabeça o serviço de mesa e desde cedo encabeçou também a luta dos trabalhadores pela continuação do restaurante. “Começámos a ter azar com alguns materiais, que não tinham manutenção há algum tempo. Já vínhamos percebendo, já nos estávamos a conformar.”
Decisão tomada, foi esta segunda-feira que o espaço encerrou definitivamente, dia de descanso do pessoal, tendo sido entregue aos funcionários a carta de acesso a subsídio de desemprego.
A 4 de agosto há uma assembleia de credores e será essa a última esperança para o espaço porque é nessa altura que os interessados - “sabemos que há alguns” - podem apresentar propostas para adquirir o espaço.
António já caiu em si. Está conformado e só responde que, após meses de luta, o desfecho é "uma tristeza muito grande", mas acredita na última esperança para adquiri-lo e, eventualmente, ter um projeto que integre de novo os funcionários agora dispensados. Essa réstia de esperança dá-nos algum alento”, garante ainda. “Mas são 33 anos a trabalhar aqui. É sempre duro.”
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