Estátua do Padre António Vieira vandalizada em Lisboa. PSP procura autores
Estátua do Padre António Vieira, no Largo Trindade Coelho, em Lisboa, alvo de vandalismo
NUNO FOX
A estátua instalada no Largo Trindade Coelho (Bairro Alto), em Lisboa, foi vandalizada esta quinta-feira. PSP está à procura dos autores do ataque e a Câmara Municipal já procedeu à limpeza do monumento. “Todos os atos de vandalismo contra o património coletivo da cidade são inadmissíveis”, reforça a autarquia
Descolonização escrito a letras garrafais na base, corações vermelhos pintados sobre o peito de crianças indígenas, a face do Padre António Vieira coberta com o mesmo vermelho forte. A estátua do Padre António Vieira, instalada no Largo Trindade Coelho (Bairro Alto), em Lisboa, é a mais recente obra figurativa a ser vandalizada, numa altura em que crescem por todo o mundo os protestos em torno de figuras que fomentaram o colonialismo, a escravatura e o racismo. As primeiras imagens começaram a circular esta quinta-feira à tarde na rede social Twitter.
O Padre António Vieira, conhecido pela defesa dos direitos dos povos indígenas e pela luta contra a sua exploração no século XVII, foi já recentemente acusado de fomentar a escravidão seletiva dos povos africanos. Incapaz de se manter indiferente à brutalidade com que os ameríndios e os escravos negros eram tratados no Brasil, o então membro da Companhia de Jesus denunciou a situação junto das cortes portuguesas da época.
Apesar da singularidade da ação em Portugal, esta não é a única figura a enfrentar a fúria dos ativistas, tendo sido notícia também esta quinta-feira a retirada de uma estátua do fundador dos escuteiros Robert Baden-Powell no Reino Unido, com receio de que esta fosse vandalizada. O Expresso analisou as publicações no Twitter sobre o Padre António Vieira nos últimos dias e identificou o incitamento ao vandalismo esta quarta-feira. As contas em causa deixaram entretanto de mostrar publicamente os respetivos tweets.
Cara do Padre António Vieira foi pintada com tinta vermelha
NUNO FOX
Polícia está à procura dos autores do ataque à estátua
Equipas de investigação criminal da Polícia de Segurança Pública (PSP) fizeram esta quinta-feira diligências na zona do Largo Trindade Coelho, em Lisboa, disse à Lusa fonte do COMETLIS. Estão à procura dos autores do ataque.
De acordo com a fonte do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP (COMETLIS), "houve uma projeção de tinta" vermelha sobre as figuras do Padre António Vieira e de três crianças, que compõem o conjunto de esculturas, tendo sido igualmente escrita a palavra "Descoloniza" na base do monumento.
Segundo a mesma fonte, depois do alerta da comunicação social, foram mobilizadas equipas de investigação criminal da PSP, que fizeram diligências no local "para recolher mais e melhores meios de prova" que possam levar à identificação dos autores.
Os danos em monumentos configuram crime público, disse o responsável da PSP de Lisboa, adiantando que o processo será agora reencaminhado ao Ministério Público.
A Câmara Municipal de Lisboa já efetuou a limpeza da estátua de Padre António Vieira, que havia sido alvo de vandalismo esta quinta-feira. Através de uma publicação no Facebook, a autarquia reforça que “todos os atos de vandalismo contra o património coletivo da cidade são inadmissíveis”.
Homenagem a uma extraordinária figura portuguesa
A estátua foi instalada pela Câmara Municipal de Lisboa em parceria com a Santa Casa há três anos. À época da inauguração, o edil Fernando Medina desejou que se tratasse "do primeiro de vários seguimentos públicos de recuperação e elevação dessa extraordinária figura portuguesa." Para Medina, tratava-se então de uma homenagem fundamental a “uma das maiores personalidades do pensamento” português até agora sem "a devida expressão de reconhecimento” na cidade.
“Trata-se da primeira estátua erigida em Lisboa ao conhecido clérigo jesuíta, nascido na capital portuguesa em 1608 e falecido na Baía, Brasil, em 1697”, esclareceu em 2017 a Câmara Municipal sobre o monumento. A Câmara Municipal de Lisboa assumia desta forma, segundo Medina, “a sua obrigação com a História”.