Sociedade

Suécia reconhece pela primeira vez que devia ter imposto mais medidas restritivas para enfrentar a covid-19

Anders Tegnell, epidemiologista-chefe da Suécia
Anders Tegnell, epidemiologista-chefe da Suécia
JONAS EKSTROMER/TT News Agency/AFP/Getty Images

“Se nos deparássemos com a mesma doença, com o que hoje sabemos exatamente sobre ela, penso que ficaríamos a meio caminho entre o que a Suécia fez e o que fez o resto do mundo”, declarou o epidemiologista-chefe do país e o principal arquiteto do polémico plano de combate ao novo coronavírus. Na semana passada, a vizinha Noruega e a Dinamarca reabriram entre si as respetivas fronteiras, uma medida que não se estendeu à Suécia

Suécia reconhece pela primeira vez que devia ter imposto mais medidas restritivas para enfrentar a covid-19

Hélder Gomes

Jornalista

O epidemiologista-chefe da Suécia, Anders Tegnell, reconheceu esta quarta-feira pela primeira vez que o país devia ter imposto mais medidas restritivas para enfrentar a pandemia de covid-19. Em entrevista à emissora pública Sveriges Radio, o principal arquiteto do polémico plano de combate ao novo coronavírus, concordou que morreram demasiadas pessoas.

“Se nos deparássemos com a mesma doença, com o que hoje sabemos exatamente sobre ela, penso que ficaríamos a meio caminho entre o que a Suécia fez e o que fez o resto do mundo”, declarou Tegnell. Esta admissão é particularmente surpreendente quando o responsável criticou durante meses os confinamentos de outros países e insistiu que a abordagem sueca era mais sustentável, escreve o jornal “Financial Times”.

Desde o início da pandemia, os suecos estão autorizados a deslocar-se aos seus postos de trabalho, a comer em restaurantes e a frequentar espaços públicos. A maioria das escolas, restaurantes e bares mantém-se aberta, bem como as fronteiras do país a visitantes europeus. O distanciamento social é encorajado mas não imposto. A estratégia concentrou-se ainda no isolamento de grupos de risco e no apelo à responsabilidade individual dos cidadãos.

O 7.º país com mais mortes por milhão de habitantes

A Suécia é atualmente o sétimo país com mais mortes por milhão de habitantes e no mês passado chegou a ser o que registou mais vítimas mortais per capita associadas à covid-19. A população apoiou genericamente a estratégia adotada, mas parece agora estar a mudar de opinião. Na semana passada, a vizinha Noruega e a Dinamarca reabriram entre si as respetivas fronteiras, uma medida que não se estendeu à Suécia.

“Há obviamente um potencial de melhoria no que temos feito. Seria bom saber exatamente o que fechar para prevenir melhor a propagação do vírus”, acrescentou Tegnell à rádio pública. Como quase todos os outros países europeus fecharam repentinamente, era difícil saber que medidas funcionavam melhor, lamentou ainda.

Segundo os dados mais recentes da Universidade Johns Hopkins, a Suécia tem 40.803 casos confirmados de infeção e 4.542 mortes associadas ao novo coronavírus. A Dinamarca e a Noruega, cada um com cerca de metade da população sueca, registam 11.971 casos e 580 mortes e 8.455 casos e 237 mortes, respetivamente. As autoridades dinamarquesas e norueguesas reconheceram que a elevada taxa de infeção na Suécia esteve por trás da decisão de não abrirem as suas fronteiras aos suecos.

Face à pressão dos políticos da oposição, o Governo de Estocolmo anunciou na segunda-feira que designaria uma comissão para investigar a estratégia do país ainda antes do verão.

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