Adriano Luís Maranhão, 41 anos, canalizador no navio de cruzeiros Diamond Princess, atracado a sul de Tóquio - em quarentena há várias semanas -, é o primeiro caso de um português infetado por coronavírus, o que foi já confirmado pelas autoridades japonesas. O Ministério dos Negócios Estrangeiros avançou com essa informação ao Expresso: "Foi confirmado pelas autoridades de saúde japonesas que a pessoa em causa deu teste positivo. A família está informada, assim como o próprio. Estamos a insistir junto das autoridades locais para que se proceda à sua transferência para o hospital de referência", avançou fonte oficial do MNE na manhã deste domingo.
A diretora-geral da Saúde deixou, no domingo à tarde, uma "palavra de tranquilidade" ao português, salientando que o facto de "estar assintomático" é bom indicador.
"Temos de estar tranquilos e pensar que este senhor, para bem dele, e ainda bem, este nosso concidadão, ate à data não apresenta sintomas, vamos aguardar para ver a evolução, mas estar assintomático é, por enquanto, positivo", disse Graça Freitas em declarações à agência Lusa. Graça Freitas explicou que as autoridade de saúde japonesas "estão a retirar as pessoas do navio para hospitais de referência no Japão de acordo com os sintomas e a situação clínica".
"No caso concreto deste senhor, e de outros passageiros e tripulantes que se encontram a bordo e assintomáticos, há um critério de prioridade. A indicação que há nestas situações é para isolamento e ficar em vigilância para ver se os sintomas evoluem ou não evoluem", explicou a responsável.
O português tem estado fechado, em quarentena na sua cabine do Diamond Princess, mas faz críticas à forma como o comando do cruzeiro está a lidar com o surto: "O caos está instalado no navio", disse este sábado em declarações à RTP, queixando-se de "falta de atenção", de não lhe terem levado jantar, e de as medidas de segurança não terem sido as melhores nos primeiros dias. "Há uma altura em que não acreditamos no que se está a passar", disse à televisão pública.
Graça Freitas, diretora-geral de Saúde, foi contactada pelo Expresso na tarde de sábado, ainda não tinha a informação de que Adriano Maranhão estava confirmado como positivo, mas confirmava que dois dos cinco tripulantes portugueses a bordo tinham sido testados há dois dias.
"Ligou-me em pânico", conta a mulher
Emanuelle Maranhão recebeu a notícia pouco depois do marido. "Ligou-me em pânico", contou ao Expresso este sábado. "Foram lá à cabine eram umas duas da tarde no Japão, disseram-lhe para se sentar e depois comunicaram-lhe que o resultado tinha sido positivo e que tinha que contactar a companhia para que trabalha e o Estado Português", revela. Não lhe deram medicação e não voltaram a aparecer. "Não sabemos nada sobre o que fazer. É sábado, ninguém atende, já mandei muitos mails para vários organismos para que os leiam logo que cheguem na segunda-feira".
Desde que o navio entrou em quarentena, o casal, que tem três filhos menores, deixou de falar do coronavírus. "Evitávamos", diz Emanuelle, "era assunto proibido". Mesmo quando os passageiros já estavam confinados aos camarotes, a tripulação continuou a trabalhar. Adriano não era exceção. Usava obrigatoriamente uvas e uma máscara. Há dois dias, ele e outro tripulante português fizeram um teste à saliva. O resultado chegou este sábado.
Mesmo com o teste positivo, Adriano diz não ter sintomas. "Queixa-se só de dores no corpo, nada mais, mas associa-o ao cansaço", revela a mulher, que se vê obrigada a um acompanhamento do marido à distância. Ele atracado em Tóquio, fechado na cabina desde a notícia, ela na Nazaré a multiplicar-se em contactos para que o tirem de lá. O telefone, que não para, já recebeu até uma chamada do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
O navio está no porto de Yokohama, a sul de Tóquio, desde 5 de fevereiro. Tinha na altura 3700 pessoas a bordo. O primeiro caso detectado foi em Hong Kong, quando o paquete passou lá e desembarcou um passageiro a quem foi detetado o vírus. Na ultima quarta-feira foram confirmados mais 79 casos - no total já foram registados 624 casos positivos.