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Custo de aeroporto em Alverca seria “duas vezes menor” que o do Montijo

Custo de aeroporto em Alverca seria “duas vezes menor” que o do Montijo

Especialistas que querem a solução a norte de Lisboa, para “corrigir” o “erro” do Montijo, defendem uma solução articulada, em que Alverca ficaria com os voos de médio-longo curso e Portela como “um aeroporto de cidade”

Custo de aeroporto em Alverca seria “duas vezes menor” que o do Montijo

Paulo Paixão

Jornalista

Um grupo de especialistas (das áreas do ambiente, planeamento, economia e acessibilidades) defende que a solução para alargar a capacidade aeroportuária de Lisboa passa pela construção de quatro pistas para a aviação civil em Alverca, pois tal teria um “custo efetivo”, por milhão de passageiros, “duas vezes menor” do que o estimado para transformação da base aérea do Montijo.

A opinião está expressa num artigo de opinião publicado neste sábado no semanário “Sol”. José Furtado (perito em planeamento estratégico de infraestruturas de transporte), António Gonçalves Henriques (ex-presidente da Agência Portuguesa de Ambiente), António Segadães Tavares (engenheiro civil premiado por diversos projetos), Ricardo Reis (diretor da unidade de consultoria da Católica Lisbon), António Carmona Rodrigues (ex-ministro das Obras Públicas e antigo presidente da Câmara de Lisboa), Rui Vallejo de Carvalho (professor da Universidade Católica) e Fernando Nunes da Silva (urbanista e professor do Instituto Superior Técnico) são os subscritores do texto, divulgado no seguimento de posição pública assumida há cerca de três meses.

Nunes da Silva explicou entretanto ao Expresso que o futuro aeroporto seria construído no mouchão da Póvoa. Esta pequena ilha no meio do Tejo, separada da zona de Póvoa de Santa Iria por uma estreita língua de água, encontra-se inutilizada do ponto de vista agrícola. O rebentamento de diques, ocorrido há poucos anos, levou à sua inundação, o que deixou o "solo salinizado".

A atual estrutura aeroportuária de Alverca, dentro do complexo militar, funcionaria como "pista de recurso", diz ainda o especialista do IST. A ligação da base existente ao futuro aeroporto seria feita através de "viadutos hidráulicos" entre a margem do Tejo e o mouchão, afirma Nunes da Silva.

A aposta em Alverca, defende o grupo de técnicos, permitiria construir quatro pistas (contra uma no Montijo), capazes de permitir até 90 voos por hora (contra um máximo de 66 no Montijo”, do que resultaria o transporte máximo de 70 milhões de passageiros por ano (contra 50 no Montijo). Os especialistas destacam ainda que uma opção por Alverca (“uma solução definitiva”) poderia estender-se por 1600 hectares, quase o triplo da área máxima que poderá ser afeta à ampliação do Montijo (600 hectares), e que será sempre uma “solução provisória”.

Eixo Portela-Alverca

Os defensores da solução Alverca encaram-na sobretudo esta localização como pólo de um eixo que tem a Portela na outra extremidade. Na capital ficaria um "aeroporto de cidade"; em Alverca, o tráfego de "médio-longo curso".

Os técnicos e académicos apresentam diversos números para negar viabilidade ao Montijo e para justificar a escolha de Alverca. Grosso modo, a argumentação pode ser resumida da seguinte forma: o número de passageiros da Portela+Montijo será sempre inferior ao que poderá passar por Portela+Alverca.

Por outro lado, enquanto a expansão da oferta aeroportuária para a margem sul acarretará sempre mais aviões sobre Lisboa (“a Portela teria de ter a sua capacidade de operação duplicada (pelo menos até aos 40 milhões de passageiros”, dizem), já o alargamento para Alverca permitirá diminuir bastante os voos sobre a capital (“Lisboa ficaria com “um tráfego reduzido a metade”).

No final de outubro, quando apresentaram pela primeira vez o seu estudo, os defensores de Alverca disseram que seriam necessários 1600 milhões de euros para concretizar tal projeto (valor que agora traduzem num “custo efetivo”, por milhão de passageiros, “duas vezes menor” que o do Montijo).

A questão das acessibilidades é uma das principais vantagens para aqueles técnicos, que destacam as vias rodoviárias (A1, A30 e CREL) e ferroviárias já existentes, e ainda a pequena distância (19 kms) entre Alverca e a Portela. E os dois aeroporto ficariam ainda mais próximos, com a sua ligação por um comboio ligeiro automático, que faria o trajeto em 12 minutos.

Este projeto - um comboio semelhante ao que opera em aeroportos como Madrid e Charles de Gaulle (Paris) - teria um custo de 700 milhões de euros. Não está contemplado no valor orçamentado para o aeroporto nem dentro da concessão, adianta Fernando Nunes da Silva.

Túnel na zona dos Olivais

A ferrovia ligeira implicaria a construção de nova linha férrea, paralela à já existente, e que ficaria situada sobretudo em terrenos industriais abandonados. Já em Lisboa, na zona dos Olivais, seria feita a obra de maior vulto: um túnel com cerca de dois quilómetros, para chegar ao aeroporto da Portela.

Na proposta, a meio do percurso da futura ligação ferroviária, próximo da ligação à CREL, ficaria um parque dissuasor, com capacidade inicial de três mil veículos, revela ainda Nunes da Silva..

Três vantagens adicionais de Alverca, na ótica dos seus defensores: o aeroporto ficaria inserido no Centro Logístico de Bobadela/Alverca; a solução permitiria um cluster aeronáutico, entre a TAP (Portela) e as oficinas da OGMA; e os trabalhos seriam mais rápidos, com conclusão em 2024 (cinco anos antes do Montijo). Por tudo, consideram a escolha do Montijo como um "erro", que importa "corrigir" a tempo.

“Em síntese", dizem os especialistas, "além de ser uma solução mais rápida de implementar e com menores custos e impactes ambientais, a construção do Hub Alverca+Portela tem melhores acessibilidades terrestres, melhor capacidade operacional, maior segurança e um teto de tráfego superior ao da atual solução da ANA”, a concessionária da Portela que apresentou a proposta do Montijo.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: PPaixao@expresso.impresa.pt

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