O que espera desta conferência das partes da ONU e que ambições vai Portugal apresentar em Madrid?
Esta COP não é uma das conferências de grandes decisões, mas sim de compromissos políticos. Na próxima, que se realiza em Glasgow (Reino Unido) em 2020, é que os países vão aprovar as suas novas contribuições nacionais ou regionais (NDC). A demora na tomada de posse da nova Comissão Europeia acabou por atrasar o discurso conjunto da UE e a definição do que vai ser o Green New Deal e o Fundo para uma Transição Justa. Portugal vai apresentar o seu roteiro para a neutralidade carbónica e o compromisso de financiamentos sustentáveis.
As emissões de gases de efeito de estufa têm continuado a aumentar e as temperaturas podem subir mais de 3°C. Para o evitar, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) diz que é preciso cortar 7,6% de emissões globais por ano na próxima década. Acha que é possível, globalmente?
Não temos alternativa. Portugal está numa posição confortável e vai ser um dos países no mundo que vai cumprir essas reduções. Lembro que Portugal já reduziu em 18% as suas emissões e no sector da energia reduziu 9%, enquanto a UE reduziu 3%.
O que pensa da posição da OCDE que desaconselha os doadores a financiarem projetos ligados a combustíveis fósseis em países em desenvolvimento?
São medidas que vão no sentido certo. O Banco Mundial e as grandes seguradoras também já deixaram claro que não vão continuar a financiar projetos em energias fósseis e querem cada vez mais financiar projetos verdes. Portugal também não financia nenhum projeto desses fora de portas e tem o compromisso para financiar projetos sustentáveis.
Mas dentro de portas autoriza projetos de prospeção e de exploração de gás natural, como acontece no centro do país. Não é contraditório?
O gás é um combustível que vai ser utilizado até 2040, mas essa data pode ser antecipada. Existem duas autorizações de prospeção de gás natural que vêm de trás. Estão a ser feitos estudos de impacte ambiental destes projetos que, sem rasgar os compromissos, poderão ser chumbados em fase de declaração de impacte ambiental.
O Parlamento Europeu aprovou esta semana uma resolução em que declara a emergência climática. O Parlamento português fê-lo em julho, mas o ministro considerou o ato “meramente simbólico”. Porquê?
Que o mundo está em emergência climática, não há a mais pequena dúvida. É claro que fazer uma declaração como essa é simbólico. Nós preferimos avançar com o compromisso para a neutralidade carbónica em 2050, sem esperar por uma declaração simbólica como essa.
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