Sócrates, dia II. Vara? “Até tentei evitar que fosse nomeado pelo Governo para a CGD”

No segundo dia do interrogatório, José Sócrates voltou a negar todas as acusações
No segundo dia do interrogatório, José Sócrates voltou a negar todas as acusações
Jornalista
O segundo dia do interrogatório a José Sócrates foi dedicado ao capítulo Vale do Lobo. José Sócrates garantiu ao juiz Ivo Rosa que até tentou evitar a nomeação de Armando Vara para a administração da Caixa Geral de Depósitos porque isso provocaria "polémica". O ex-primeiro ministro disse que sugeriu ao ministro Teixeira dos Santos que o Governo nomeasse apenas o presidente do banco e que seria este a escolher a administração. Segundo Sócrates, foi o então ministro das Finanças que decidiu nomear Vara "pelas suas qualidades".
O MP diz que Sócrates recebeu um milhão do grupo Vale de Lobo por ter conseguido que Vara fosse nomeado para a administração da CGD e depois aprovasse um financiamento de 200 milhões de euros para o grupo. Vara também teria recebido um milhão e é igualmente acusado no processo.
José Sócrates negou ainda que o antecessor de Teixeira dos Santos tenha saído do Governo por se ter recusado a nomear Armando Vara para a CGD. Campos e Cunha foi obrigado a demitir-se por ter escrito um artigo de opinião a criticar uma medida do Governo com a qual tinha concordado, isto segundo a versão do ex-PM.
No início do interrogatório, Sócrates foi confrontado com vários movimentos financeiros entre a ES Enterprises, uma empresa do universo Espírito Santo, Joaquim Barroca e Rui Mão de Ferro, também arguidos no processo. Sócrates negou por mais de uma vez que tenha beneficiado com estas movimentações financeiras e disse mal conhecer Joaquim Barroca, administrador do Grupo Lena que, segundo o MP, terá subornado Sócrates com seis milhões de euros. O ex-primeiro-ministro disse que esteve com o administrador "num jantar" em 2009 e que essa foi a vez que passaram mais tempo juntos. Quando o MP o confrontou com o facto de ter sido apreendido um cartão de Natal data de anos antes, sócrates explicou que recebia "muitos" quando estava no Governo.
Ivo Rosa passou então para o capítulo TGV e confrontou o ex-PM com a acusação do MP que sustenta que Sócrates terá movido influências para conseguir que o Grupo Lena fizesse parte do consórcio vencedor. Sócrates voltou a negar qualquer intervenção nesta decisão. "Nem sabia que a Lena estava no consórcio", garantiu ao juiz. E lamentou que o PSD tivesse abandonado o projeto Caia-Poceirão. "Foi um erro."
O interrogatório prossegue esta quarta-feira com os negócios da Lena na Venezuela e um capítulo difícil para Sócrates: as entregas de dinheiro por parte de Carlos Santos Silva.
Texto retificado às 11h08 de hoje
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