O Ministério Público decidiu arquivar todas as suspeitas contra Paulo Lemos, o "Fechaduras", por considerar que teve um "arrependimento ativo" e que tentou, até, evitar o assalto ao paiol de Tancos. O procurador Vítor Magalhães dá como provado que "Fechaduras" participou no almoço num restaurante em Sete Rios (Lisboa) onde o assalto foi planeado e aceitou o papel que lhe foi atribuído pelo líder do grupo, João Paulino, que tinha ficado impressionado depois de o ver abrir "um carro" e "a porta de um bar". "Propôs-lhe que ficasse responsável pela abertura das fechaduras dos paióis ou por apresentar uma solução para o grupo poder ultrapassar este problema durante a execução do Assalto", explica a acusação. Em troca, "cinquenta mil euros, independentemente de conseguirem ou não vender o material militar.".
Paulo Lemos explicou que "a melhor opção seria utilizar um saca-cilindros, uma vez que esta ferramenta, embora destruísse o canhão da fechadura, permitiria a abertura das portas em cerca de 15 segundos". Este utensílio seria comprado por Paulino em Espanha "de acordo com as instruções de Paulo Lemos" e foi utilizado com o sucesso que se conhece no assalto. .
Mas antes do assalto, "Fechaduras" "pensou melhor", "reflectiu no seu passado de prática de crimes violentos" e "nas consequências que tiveram na sua vida". E pensou na mãe e na promessa que lhe tinha feito: "Tinha jurado à mãe que não ia ser preso", diz a acusação. Por isso decidiu não só não participar no assalto, mas também denunciar o caso às autoridades. E lembrou-se de outra mulher: "Paulo Lemos ficou muito sensibilizado" com uma procuradora do Porto que não o levou a julgamento num processo e por esta magistrada "lhe ter dito que, caso viesse a ter um comportamento correcto e cumpridor das leis, poderia vir a assumir o papel de Informador"
Assim, em março de 2017, três meses do assalto, Paulo Lemos ligou para a magistrada do DIAP do Porto e informou-a do que se estava a preparar. só não falou em Tancos porque se tinha "esquecido" do local a assaltar. A informação foi passada à PJ de Vila Real, foi aberto um inquérito crime que não foi suficiente para evitar o assalto porque "inicialmente", não foi "autorizada judicialmente a realização de intercepções telefónicas, único meio de obtenção de prova que se revelava eficaz", justifica a acusação.
Paulo Lemos, que é considerado pelo MP um "arrependido ativo" estava indiciado, entre outros crimes, de associação criminosa, é agora um homem livre. Já depois do assalto, João Paulino cortou relações com Paulo Lemos por, segundo um documento inicial do MP, "suspeitar que este informasse a PJ".
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