Azeredo Lopes foi acusado no processo de Tancos, apurou o Expresso junto de fonte próxima do caso, depois de notícia do "Correio da Manhã". O caso tem 25 arguidos, sete deles em prisão preventiva. Quem não se encontra no rol de suspeitos é Marcelo Rebelo de Sousa, avança o DN. Informação que pôde também ser confirmada pelo Expresso.
O ex-ministro da Defesa foi indiciado em julho, altura em que foi constituído arguido, dos crimes de denegação de justiça, prevaricação e abuso de poderes.
Em agosto de 2017, um mês e meio depois do roubo do arsenal, terá recebido no Ministério da Defesa do coronel Luís Vieira, então número um da Polícia Judiciária Militar (PJM), um documento produzido pelo Ministério Público sobre a investigação ao roubo do arsenal de guerra, que se encontrava em segredo de justiça.
Durante essa reunião, Vieira terá então revelado pormenores sobre a operação ilegal da PJM, nomeadamente a existência de um assaltante que estava disposto a negociar a entrega do armamento furtado nos paióis nacionais na condição de não ser detido.
Segundo os procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) que investigam o caso, o então ministro da Defesa deu ordens para que os documentos entregues por Vieira não fossem registados oficialmente no Ministério. Bem como a presença do ex-número um da PJM naquele gabinete. E não alertou a PGR sobre a investigação paralela que estava a ser realizada pela Judiciária Militar.
Ainda de acordo com o MP, o ex-ministro terá guardado este segredo por estar "consciente" de que a recuperação das armas teria "um papel muito importante na imagem do Governo", numa altura em que o Executivo estava sob pressão devido às mortes nos incêndios na zona centro.
O DCIAP não tem dúvidas de que as conversas entre os dois arguidos durante esse período permitiam que o ministro fosse "acompanhando o desenrolar dos acontecimentos".
Polémica chegou a Belém
Esta quarta-feira, o jornal "i", avançou que o tenente-general João Cordeiro, ex-chefe da Casa Militar do Presidente da República, estava a par de tudo no caso de Tancos – inclusive as negociações entre as chefias da Polícia Judiciária Militar (PJM) e os autores do assalto aos paióis. A conclusão do MP baseia-se numa série de telefonemas e SMS trocados entre Cordeiro e Luís Vieira, diretor geral da PJM, apreendidos durante a investigação.
O ex-chefe da Casa Militar só por uma questão legal é que escapou a uma acusação do MP por abuso de autoridade e falsidade de testemunho. Os dois crimes que lhe poderiam ser imputados só são puníveis com penas até três anos de prisão. De acordo com o código penal em vigor, e-mails e SMS só são admissíveis como prova no caso de crimes puníveis com penas superiores a três anos de prisão. O MP acabou, por isso, por arquivar o caso em relação ao chefe da Casa Militar de Marcelo.
Em novembro de 2017, cerca um mês depois das armas de Tancos terem sido recuperadas num baldio na Chamusca, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou a saída de João Cordeiro “A seu pedido e por motivos pessoais”.
Já a TVI recuperou uma escuta do major Vasco Brazão à irmã, referindo-se ao "papagaio-mor do reino", expressão que a investigação terá atribuído a Marcelo Rebelo de Sousa. Mas não terá dado grande crédito.
Marcelo reagiu ontem na ONU às duas notícias: "É bom que fique claro que o Presidente não é criminoso." E esta quarta-feira, uma fonte de Belém garantiu ao Expresso que Marcelo estava furioso com a "pré-acusação montada contra Belém".
O Presidente da República não se encontra no rol de acusados. Há dois meses, num artigo publicado na edição de papel, o Expresso tinha noticiado que o caso não iria atingir Marcelo nem António Costa.
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