31 maio 2019 10:48
luís barra
Sindicato dos Médicos da Zona Sul acusa a administração privada da unidade pública de travar as consultas subsequentes de seguimento dos doentes para cumprir as metas impostas pelo Ministério da Saúde, tendo assim ganhos maiores
31 maio 2019 10:48
Os médicos do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, só podem marcar consultas de seguimento dos seus doentes se estiver assegurado o número de primeiras consultas negociado com o Estado. A medida serve para evitar multas por incumprimento do contrato, pois o hospital é gerido por privados em regime de parceria público-privada (PPP).
A denúncia é feita pelo Sindicato dos Médicos da Zona Sul, que afirma que a administração do hospital, a Luz Saúde, “bloqueia a agenda dos médicos, obrigando à marcação exclusivamente de primeiras consultas e impedindo a marcação de subsequentes durante 30 dias por ano, caso se preveja que o número total de primeiras consultas seja inferior ao contratualizado anualmente com o Ministério da Saúde”. Segundo o sindicato, “trata-se de uma manobra por motivos económicos, desrespeitando os critérios clínicos, ao contrário do que aconselhariam os bons cuidados em saúde”.
Em comunicado, é explicado que “a PPP de Loures está contratualmente obrigada a que, pelo menos, um terço do total de consultas sejam primeiras, sob pena de, se não o cumprir, ficar sujeita a multas”. E o hospital também ganha, pois “as primeiras consultas são melhor remuneradas pelo Estado do que as subsequentes”. O bloqueio “aplica-se a todas as especialidades, mesmo aquelas que previsivelmente cumpram o contratualizado para que possam colmatar ‘a falta’ de outros serviços”.
Ao Expresso, os responsáveis pelo hospital explicam que "a procura de consultas excede anualmente os valores contratualizados – e não obstante os pedidos feitos pelo hospital desde 2015 para que os números impostos pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo fossem aumentados - , o Hospital Beatriz Ângelo (HBA) tem entendido ser fundamental assegurar os melhores cuidados à população, realizando, por isso, todos os anos, um número de consultas muito superior (mais de dois milhões de euros em consultas acima do contratado, entre 2015 e 2018)". A administração do hospital garante que "essas consultas não constituem um acréscimo nos valores pagos ao Hospital Beatriz Ângelo pelo Estado, antes apresentam-se como encargo coberto exclusivamente pelo acionista privado" e acrescenta que "são, acima de tudo, o cumprimento de um dever para com os nossos doentes: garantir os cuidados de continuidade, no ambiente que conhecem e com a proximidade que eles próprios exigem".
Em comunicado, afirma ainda: "Não é verdade o que alega o Sindicato dos Médicos da Zona Sul, nem o HBA compreende as afirmações que lhe estão a ser apontadas. Estamos a assegurar a atividade contratada, excedendo-a em muitas áreas, e a cumprir escrupulosamente o que foi contratado com o Estado."