Sociedade

Prados com ovelhas a pastar em Lisboa. Objetivo é melhorar os pulmões da cidade e enfrentar ondas de calor

Jardim da Cerca da Graça foi um dos espaços verdes recuperado em 2015 numa das zonas históricas de Lisboa
Jardim da Cerca da Graça foi um dos espaços verdes recuperado em 2015 numa das zonas históricas de Lisboa

É o primeiro projeto Life ganho pela Câmara de Lisboa e vai permitir criar prados biodiversos na cidade com ovelhas a pastar. Esta quarta-feira, a capital portuguesa acolhe um encontro do Grupo da Liderança Climática das Grandes Cidades, num evento paralelo à Conferência Europeia de Adaptação às Alterações Climáticas - ECCA2019 sobre ondas de calor e como tornar as cidades “mais cool”

Prados com ovelhas a pastar em Lisboa. Objetivo é melhorar os pulmões da cidade e enfrentar ondas de calor

Carla Tomás

Jornalista

Com os termómetros a subir e ondas de calor mais frequentes e prolongadas no futuro próximo, torna-se premente adaptar as cidades às alterações climáticas. A Câmara Municipal de Lisboa tem vindo a redesenhar a cidade com esse objetivo e acaba de receber mais um incentivo ao ganhar um financiamento de 2,7 milhões de euros (com 55% de financiamento comunitário) para o projeto Life “Lungs” (Pulmões), que arranca em setembro e se prolonga até 2024.

O objetivo é dar continuidade à manutenção e crescimento das estruturas verdes da cidade (parques, jardins, hortas e prados) como formas de atenuar as ondas de calor e a escassez hídrica que se projetam para um futuro próximo, tornando a cidade mais resiliente ao aumento das temperaturas. Entre estes espaços verdes, a autarquia vai criar “prados biodiversos onde colocará ovelhas a pastar, ajudar as pessoas que têm hortas urbanas a regar de forma eficiente, assim como demonstrar como os serviços dos ecossistemas permitem diminuir as temperaturas ou melhorar a qualidade do solo, por exemplo”, explica Duarte Mata, arquiteto paisagista e adjunto do vereador da Estrutura Verde e Energia, José Sá Fernandes.

Com recursos a fundos do POSEUR, financiamento privado (Casino de Lisboa) ou empréstimos do BEI, a autarquia tem investido nos últimos cinco anos uma média de 10 milhões de euros anualmente na construção e manutenção da estrutura verde da cidade, criação de ciclovias, pontes cicláveis e pedonáveis, etc.

Ganhar a batalha nas cidades

“A batalha [contra as alterações climáticas] será ganha ou perdida nas cidades”, sublinhou o presidente da Câmara de Lisboa, esta terça-feira, na abertura da Conferência Europeia de Adaptação às Alterações Climáticas — ECCA 2019 — que decorre até quinta-feira, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Fernando Medina elencou cinco ações que a autarquia está a desenvolver para adaptar a cidade, entre as quais: a aposta no recurso a sistemas de água de esgoto reciclada para lavagem de ruas e rega de jardins; o novo sistema de drenagem para enfrentar inundações, o aumento da mancha verde da cidade para enfrentar as ondas de calor ou a colocação de plataformas solares nos autocarros para produção de energia, tendo em conta que Lisboa é a capital europeia com mais horas de sol disponível diariamente. Medina aproveitou também para lembrar que Lisboa é a primeira capital do sul da Europa a conquistar a distinção de Capital Verde Europeia, galardão que vai erguer em 2020.

Esta quarta-feira, num evento paralelo à ECCA, o município acolhe sete das cidades representadas no Grupo da Liderança Climática das Grandes Cidades — “C40 Cities”, para falar sobre o mapeamento das ilhas de calor e como refrescá-las. Esta rede conta com 96 grandes cidades de todo o mundo e representa mais de 700 milhões de habitantes e um quarto da economia mundial. Neste encontro em Lisboa estão representadas Madrid, Atenas, Roma, Barcelona, Berlim e Telavive, que integram a rede “Cool Cities” do “C40”.

A coordenadora desta rede, Regina Vetter, lembra em declarações ao Expresso que “o primeiro passo é desenvolver mapas de ilhas de calor com dados de satélite ou medições em terra para identificar e localizar onde se encontram os locais e as pessoas mais vulneráveis”, de forma a planear as estruturas verdes nas cidades, zonas de sombra ou pavimentos que refletem o calor. Lisboa, que aderiu ao C40 no início deste ano, está a começar a desenhar esse mapa e continua a desenvolver as estruturas verdes que permitem atenuar as ilhas de calor.

Como lembra Daniela Jacob, investigadora do Climate Service Center da Alemanha: “Todas as projeções indicam que os próximos cinco anos vão ser tão ou mais quentes que os últimos cinco”, e que já em meados deste século os termómetros vão subir em média globalmente mais 1,5º C do que o que registavam na era pré-industrial. Por isso, defende: “Temos de criar zonas de sombra nas cidades e mais espaços verdes”. Só assim se conseguirá atenuar o calor que aí vem.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ctomas@expresso.impresa.pt

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