Sociedade

Inspetora da Administração Interna considera inadmissível que ainda existam abusos policiais

Margarida Blasco, ministra da Administração Interna
Margarida Blasco, ministra da Administração Interna
José Sena Goulão

Margarida Blasco, que deixa o cargo esta quarta-feira, ao fim de sete anos, reconhece que as polícias têm melhorado muito neste campo mas deve haver “tolerância zero”. Magistrada destaca o facto de em 2018 não ter havido qualquer cidadão morto por ação policial

A inspetora-geral da Administração Interna, que fiscaliza as forças e serviços de segurança, considera inadmissível que ainda existam abusos policiais, declarando "tolerância zero" deste organismo a essas situações.

"Penso que a polícia melhorou muito nos últimos anos, tenho acompanhado sempre a evolução das polícias. Trabalho nesta área há 40 anos, quando fui colocada no primeiro tribunal há 40 anos e aquilo que eu posso dizer é que francamente há um saldo muito positivo na atuação. Agora obviamente que há abusos e esses abusos têm de ser tratados e é com tolerância zero", disse Margarida Blasco, que deixa o cargo esta quarta-feira ao fim de sete anos.

Em entrevista à agência Lusa, a magistrada considera que "não é admissível que esses abusos continuem de uma forma gratuita".

Nesse sentido, destaca a importância de "um órgão externo às próprias polícias", como é o caso da Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI), que "de uma forma independente, objetiva e dentro do princípio da legalidade verifica as situações".

"Por isso é que existimos. E é importante que se verifique o que se passou e toda a situação que deu origem a essas queixas", precisou, acrescentando que a IGAI, na existência de "uma violação grave dos direitos dos cidadãos", é "perfeitamente crítica e impõe penas aos elementos policiais porque é a própria imagem das forças e serviços de segurança que está em causa".

Para a inspetora-geral, "é importante que haja celeridade" nos processos disciplinares, porque a sua abertura determina a evolução da carreira do polícia e, por outro lado, há também que "sancionar aqueles que efetivamente podem contaminar outros agentes pela sua má conduta".

As queixas contra membros da PSP e da GNR são a grande fatia do trabalho da IGAI, que em 2018 recebeu 860 denúncias contra a atuação das forças de segurança, o valor mais alto dos últimos sete anos.

Sobre este aumento, Margarida Blasco referiu que as pessoas "estão mais disponíveis" para apresentar denúncias e existe um maior conhecimento da IGAI por parte dos portugueses, além das notícias dos órgãos de comunicação social serem também fonte para esta inspeção-geral abrir um processo.

Margarida Blasco destacou igualmente a existência desde fevereiro do portal da queixa, que permite ao cidadão fazer uma queixa na página da internet da IGAI.

Segundo dados avançados pela inspetora-geral, deram entrada neste portal, até hoje, 38 queixas, sendo que 12 estavam relacionadas com outros ministérios e foram reencaminhadas.

A magistrada sublinhou também o "número muito elevado" de processos disciplinares instaurados no ano passado, um total de 60, além de 40 inquéritos e três processos de averiguações.

"Sessenta processos disciplinares é um número muito elevado. Há, no entanto, uma nota muito positiva: no ano passado, não houve qualquer cidadão morto por ação policial, isso é um facto positivo, já que em anos anteriores tinha havido cidadãos que tinham morrido na sequência da atividade policial", frisou.

Margarida Blasco deu conta que neste momento está a decorrer uma auditoria na IGAI sobre a presença da extrema-direita nas forças de segurança, investigação que está a ser feita depois de queixas.

"A IGAI investiga todas as queixas. Se há indícios sobre situações de extrema direita e isso condiciona a atuação dos elementos, investigamos. Porque são situações que a verificarem-se são graves", sustentou.

Margarida Blasco recusou ainda que exista racismo nas polícias, podendo apenas "haver um elemento ou outro que possa ter esse tipo de comportamentos".

"Queremos erradicar [o racismo e a xenofobia] completamente das forças, mas na sua globalidade não se pode tomar um caso como um todo, porque são cerca de 50 mil pessoas e é perfeitamente absurdo que se diga isso", disse a magistrada.

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