Infeções: “É tempo de retomar hábitos que se perderam. Lavar as mãos é importante”

O que faz uma associação que se dedica à infeção nos cuidados de saúde?
A associação foi constituída em 1998 na sequência do primeiro congresso de infeção hospitalar, nos hospitais de Coimbra, como uma forma de consciencialização para a importância de nos organizarmos em torno deste problema de saúde pública. A infeção hospitalar é hoje um problema na qualidade dos cuidados em todos os níveis, incluindo no domicílio, e a nossa missão é a advocacia do controlo da infeção, por exemplo organizando jornadas técnicas nesta área.

Portugal tem dos piores resultados na Europa. O que tem falhado?
A nossa medicina está entre as melhores do mundo, mas há várias determinantes que contribuem para os resultados menos bons: a sobrelotação e a subdotação dos serviços e o comportamento dos próprios profissionais, que se inebriaram com a antibioterapia, achando que as infeções deixariam de ser um problema. Ainda assim, constata-se que nos últimos cinco a seis anos tem existido um esforço muito grande. Temos uma rede de unidades qualificadas para o controlo da infeção, uma vigilância epidemiológica mais apertada, maior consciencialização dos profissionais e a população mais atenta, pressionando menos os médicos para a prescrição de antibióticos.

Mas vão existir sempre microrganismos resistentes. É inevitável.
É uma luta constante entre o homem e o microbioma, que é o conjunto de bactérias, fungos e vírus. Temos uma população envelhecida, logo com mais suscetibilidade, e que, sendo idosa, tem outras patologias e pior prognóstico. Assim, torna-se necessário o recurso a terapêuticas invasivas com as complicações que lhes estão associadas, como as infeções. Por outro lado, num sistema de saúde que funciona as pessoas têm mais acesso, mais prestação de cuidados, portanto, mais oportunidades de exposição aos riscos. Nunca será possível reduzir a infeção a zero. É tempo de retomar hábitos que se perderam com o certo laxismo que decorreu da própria evolução tecnológica antimicrobiana. Lavar as mãos e promover a utilização de soluções antisséticas são medidas importantes.