Sociedade

Mamadou Ba. “Não há ninguém que nos vai calar. O que está em cima da mesa é uma questão ideológica”

Mamadou Ba. “Não há ninguém que nos vai calar. O que está em cima da mesa é uma questão ideológica”
José Fernandes

Na manifestação de solidariedade com o bairro da Jamaica, que decorre no Seixal, o dirigente do Bloco de Esquerda e da SOS Racismo afirmou que a população não tem confiança que a polícia a trate com dignidade. “Nenhum caso de violência policial pode ficar impune.” “Queremos justiça”, gritou

A poucos minutos do início da manifestação contra a violência policial, foi possível assistir à entrada de várias carrinhas da PSP nas instalações da Câmara Municipal do Seixal.

Em frente ao edifício existe já um dispositivo policial considerável. As autoridades colocaram uma barreira de metal entre a porta principal da autarquia e o local onde se vão juntando algumas dezenas de pessoas.

“Queremos a polícia fora das nossas vidas”, “Queremos justiça”, “Não à violência policial”, “Desculpa mãe. Basta”, ou “O racismo mata” são algumas das palavras de ordem escritas em cartazes afixados no chão e junto à entrada principal.

Alguns ativistas que organizaram o protesto através das redes sociais já se encontram no local. O ambiente é calmo. Cerca de 200 pessoas já se juntaram à iniciativa.

Duas horas depois do início do protesto, alguns manifestantes começam a dispersar. O ambiente tem sido sereno. A presença policial vai sendo cada vez mais discreta à medida que a tarde avança.

José Fernandes

Um dos discursos mais aplaudidos é o de um jovem que apela à solidariedade com Mamadou Ba. “Quando as polícias atuam como no Jamaica temos de ter capacidade de ter pessoas no dia seguinte no Terreiro do Paço”, apela um dos manifestantes ao microfone que pode mais união e comunicação entre as comunidades da Margem Sul com as de Sintra e outras zonas de Lisboa.

Encontram-se poucos moradores do bairro da Jamaica no local. Manuel Vicente, 51 anos, morador no bairro, falou ao microfone para dizer que a polícia que foi ao bairro no último domingo tem de ser castigada. “Passam a ideia de que os polícias são os bons. A polícia não tinha competência para deter ninguém. Não foi um flagrante delito.”

Afirmou que a população do Jamaica “está farta de violência policial”. E que a polícia mente quando diz que foi recebida com pedradas naquele domingo.

“Solidariedade com o camarada Mamadou Ba”, gritam os manifestantes de braço no ar. “Nem menos nem mais direitos iguais. Fascismo, racismo não passarão”, “Violência policial, não. Não ao racismo”, são outros dos slogans entoados.

Entretanto, Mamadou Ba também discursou. “Não há ninguém que nos vai calar. O que está em cima da mesa é uma questão ideológica. Garantir que todos nós temos os mesmos direitos. Nenhum agente da autoridade ide maltratar alguém pela cor da sua pele. São várias Jamaica que têm que acabar. A responsabilidade disso é do Estado. Quem quer respeito tem de merecer respeito. Se a polícia quer respeito tem de respeitar.”
O dirigente acrescenta que a população não tem confiança que a polícia a trate com dignidade. “Nenhum caso de violência policial pode ficar impune.” “Queremos justiça”, gritou.

“O que está a acontecer na Jamaica e noutros bairros não pode ser silenciado. E não pode continuar.” E garante que o problema do racismo “é da sociedade”.

Os manifestantes gritam: “Não passarão”, enquanto empunham cartazes com o nome das vítimas de violência policial.

A manifestação foi marcada pelo Coletivo Consciência Negra, pela Plataforma Muxima ou Plataforma Gueto. Mas também se encontram vários dirigentes do SOS Racismo, entre eles o seu presidente José Falcão.

Recorde-se que a frase do dirigente do Bloco de Esquerda e da SOS Racismo Mamadou escreveu no Facebook sobre “a bosta da bófia” continua a ser alvo de polémica.

Na última segunda-feira foi realizada a primeira manifestação contra a violência policial, em Lisboa. No final houve confrontos e quatro pessoas foram detidas pela PSP.

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