Sociedade

Ordem dos Médicos acusa Manuel Pinto Coelho de fazer “afirmações potencialmente graves para os doentes”

Ordem dos Médicos acusa Manuel Pinto Coelho de fazer “afirmações potencialmente graves para os doentes”
José Carlos Carvalho

Entrevista do clínico ao Expresso gerou “revolta e desconforto na comunidade médica” por defender práticas “que podem constituir um atentado à saúde”, escrevem os representantes da Medicina portuguesa numa nota “em defesa dos doentes”. Beber diariamente água do mar diluída, não utilizar protetor solar ou recusar estatinas são algumas das ‘prescrições’ polémicas

É um caso raro na Medicina em Portugal: a Ordem dos Médicos (OM) vem a público acusar um clínico de ameaçar a saúde da comunidade. O Conselho Nacional da OM enviou esta sexta-feira ao Expresso uma "nota em defesa dos doentes" - publicada amanhã na edição semanal - onde afirma "discordar frontalmente de várias das afirmações produzidas pelo Dr. Manuel Pinto Coelho, que podem constituir um atentado à saúde dos doentes e da comunidade".

Na origem da reação do órgão máximo da Ordem está uma entrevista ao Expresso, em maio, onde o médico defende a ingestão diária de água do mar diluída, garante que os "cremes de proteção solar são um desastre", afirma que "as estatinas (para o colesterol alto) matam dia sim, dia sim" ou diz-se convicto de que "a vitamina D em alta dose retarda a evolução de um cancro metastizado". No conjunto, "afirmações polémicas" que "instalaram revolta e desconforto na comunidade médica", explica a OM.

O Conselho Nacional da Ordem dos Médicos justifica o envio da missiva com a necessidade de "esclarecer a sociedade civil" de que "a Medicina sem evidência científica constitui um perigo para a saúde pública" e que Manuel Pinto Coelho "fez afirmações potencialmente graves para a saúde dos doentes". A OM revela ainda que, "em colaboração com as associações e sociedades científicas, irá produzir informações honestas e acessíveis, validadas cientificamente, em que a sociedade civil possa confiar".

O médico é já alvo de vários processo disciplinares, por "afirmações polémicas produzidas em diferentes contextos", salienta a Ordem. O presidente do Instituto de Medicina Baseada na Evidência, António Vaz Carneiro, foi uma das vozes que mais contestou cientificamente as ideias de Manuel Pinto Coelho. Agora, o órgão máximo da OM vem dizer que o professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, "em resposta às afirmações abusivas e cientificamente incorretas" do clínico, "fez a defesa da qualidade da Medicina baseada na ciência clínica experimental (estudos científicos), dando um enorme contributo público para a defesa da saúde das pessoas".

Manuel Pinto Coelho defendeu-se com referências a estudos. Ao Expresso, António Vaz Carneiro afirma apenas que as justificações apresentadas pelo clínico "mereceriam contestação e correções, quer na crítica da qualidade dos estudos que cita, quer na interpretação dos dados científicos neles contidos", contudo a discussão passou para as mãos da própria Ordem. Ou seja, "para um contexto institucional superior" que faz cessar a necessidade de intervenção do especialista.

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