Já era de noite quando uma longa fila de pessoas se formou à porta do “Jornal Novo”, na Rua Marechal Saldanha, perto do Bairro Alto. Em passo apressado, chegavam de vários pontos de Lisboa e até de fora da cidade na ânsia de conseguir um exemplar da edição especial que saíra ao final da tarde e que esgotara em menos de uma hora. Em pleno Verão Quente, numa altura em que se agudizavam as tensões sociais e em que corriam boatos sobre a iminência de um golpe, espalhara-se rapidamente a “notícia bombástica” que o jornal trazia na primeira página, dando conta de um documento assinado por nove conselheiros da Revolução e que marcava uma rutura definitiva no seio do Movimento das Forças Armadas (MFA). “Toda a gente queria ler, mas os ardinas tinham vendido tudo. Mal chegou às ruas esgotou logo e já ninguém conseguia comprar em lado nenhum. Então, as pessoas foram bater à porta da própria redação e formou-se uma bicha enorme. Mas não tínhamos nem um para lhes dar”, conta José Sasportes, à época chefe de redação do vespertino.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: JBastos@expresso.impresa.pt