E é assim chegado, não com demasiada surpresa, nem muito pela calada, o instante em que o funcionamento concreto da democracia avança em palco para se revelar envolto numa rotina de república cansada que desencoraja as esperanças excessivas e reivindica mais do que as mínimas reformas. Cinquentenária, a democracia portuguesa merecia melhor, e merecia-o antes. Devia há muito ter percebido que já não está na adolescência, amadureceu ou pelo menos envelheceu, e está na idade em que os filhos saem de casa — a nossa democracia teve filhos tarde — e esse abandono, essa migração dos descendentes soa como aviso. A decisão de “dar o salto” — hoje, de avião e de transportadora low cost — é o mais claro sinal de que o futuro que nos espera habituou-se a que não contemos com ele. A decisão de emigrar é das mais difíceis e por isso das mais reveladoras de como o Estado da nação não garante já o acesso ao quinhão de futuro e de oportunidade que as nossas descendências reclamam. Não corramos o risco de, outra vez brandos, nos acostumarmos ao mesmo, até porque num continente ele mesmo enredado num aumento da produtividade que deixa muito a desejar e a temer. Urge escapar de duas décadas de estagnação e de crescimento não lento mas anémico.
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