É uma das grandes senhoras das letras portuguesas contemporâneas e possui a força de um furacão. Se a isto somarmos uma delicadeza extrema, temos o retrato de uma mulher nascida das suas próprias contradições e, há 21 livros, nutrida por elas. Teolinda Gersão é natural de Coimbra, formou-se em Germanísticas, estudou e trabalhou em Berlim e foi professora catedrática em Lisboa, cidade que escolheu por ter “tudo” o que precisa — o mar e um aeroporto. E que gosta de palmilhar quando não está a escrever, agora que lhe é devido um tempo sem outras obrigações. Aos 85 anos, continua a testar-se literariamente e a explorar novos territórios. Os mais recentes incluem um mergulho em personagens reais que ela quis dissecar. Depois de, em 2021, ter publicado “O Regresso de Júlia Mann a Paraty”, há pouco lançou “Autobiografia não Escrita de Martha Freud” (Porto Editora), romance baseado nas cartas que esta trocou com o marido, Sigmund, publicadas em quatro volumes e portadoras de uma perspetiva nova e polémica sobre o pai da psicanálise. Teolinda adorou esta descoberta, ela que lê Freud desde os tempos de estudante. “Fazia parte da cultura geral”, conta ao Expresso, num encontro que teve lugar no Centro Nacional de Cultura, ao Chiado, umas ruas acima da casa onde vive e de onde vai observando as mazelas de um mundo “brutalmente em mudança e em conflito”, demasiado fértil às novas ditaduras, e os problemas de um Portugal “sem autoestima”, mesmo em termos de literatura. “Quando entro numa livraria, fico escandalizada”, diz Teolinda. “Embasbacamos perante o que vem de fora.” O tom será sempre este, o da franqueza de alguém que residiu em três países e preferiu voltar ao seu. Para dizer: “É aqui que eu pertenço.”
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