É dia 9 de dezembro de 1964, uma quarta-feira. “Belarmino”, de Fernando Lopes, está em exibição nos cinemas de Lisboa. Do outro lado do oceano, em Nova Iorque, nas salas de Manhattan, mostra-se a comédia “Kisses for my President”, protagonizada por Polly Bergen e Fred MacMurray, que ecoa transformações na sociedade ao questionar o que aconteceria se a América elegesse uma mulher para o mais alto cargo do país. Ao final dessa tarde, John Coltrane despede-se de Alice McLeod, sai de sua casa, no número 247 de Candlewood Path, na zona de Dix Hills, em Long Island, entra na sua carrinha Chrysler e prepara-se para fazer um caminho que conhece muito bem e que o levará até Manhattan, primeiro, a meter-se na ponte George Washington, depois, e a atravessar para Nova Jérsia para enfim se dirigir a Englewood Cliffs, mais concretamente ao número 445 da arejada avenida Sylvan, lugar onde Rudy Van Gelder opera aquele que é um dos principais estúdios de gravação de jazz da América do Norte. Quando lá chega, cerca de uma hora depois de ter saído de casa, John, de 38 anos, já tem à sua espera Jimmy Garrison, oito anos mais novo, Elvin Jones, de 37 anos, e McCoy Tyner, o mais jovem de todos, com apenas 26 anos. Van Gelder, que acabou de celebrar o seu 40º aniversário, é o homem mais velho na sessão, que está marcada para as 20h e que se prolongará até bem perto da meia-noite. Depois, sem grandes conversas ou preparação, e em apenas 240 minutos de trabalho, aqueles cinco homens registam uma das mais celebradas obras-primas da história da música, o álbum “A Love Supreme”, que a Impulse editará cerca de um mês e meio mais tarde.
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