Com a Ponte 25 de abril por cenário, Matthew Prince dificilmente poderia escapar às comparações entre Lisboa e São Francisco, nos EUA. “Aqui o clima é melhor”, diz o líder da Cloudflare, orgulhoso do arrojo cenográfico da nova sede, mas sem deixar de apontar um reparo: “O aeroporto de Lisboa é inutilizável.” Ao leme da Cloudflare, o empresário americano de 49 anos escalou na valorização de um negócio que hoje aponta para 32 mil milhões de dólares (€29,4 mil milhões) e chegou ao topo da pirâmide do poder da internet, com a proteção de 26 milhões de sites e o roteamento de tráfego que garante que os diferentes serviços permanecem operacionais. A discrição que lhe permite passear por Lisboa sem ser reconhecido de nada serviu perante as acusações mais extremadas de tentativa de manipulação das eleições americanas. Às teorias da conspiração, responde com a tese de que, mesmo que quisesse, a Cloudflare não saberia como manipular umas eleições: “Somos uma rede por onde os dados passam de forma efémera.” Ao longo dos últimos anos, a empresa recusou dar resposta a pedidos de informação sobre sites independentistas catalães, mas também negou ter dado ajuda a Elon Musk no Brasil ou fornecer dados às autoridades israelitas sobre sites palestinianos. Em paralelo com as presidenciais americanas, há um caso que pode mudar a internet europeia a perfilar-se no Tribunal de Justiça da UE: “A França tem o direito de controlar o que acontece em França, mas não o que acontece em Portugal, nos EUA ou no Mianmar [antiga Birmânia].”
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