As boas-vindas a uma chamada de vídeo que cruza um oceano são-nos dadas por “Pretinha”. “Estou trabalhando como um doido. Nossa Senhora!”, desabafa, sorridente, Ney Matogrosso, depois de nos apresentar a sua gata-pantera. “Paro em casa dois dias e viajo de novo. Agora, na sexta-feira, vou para o Crato, que é lá no final do Ceará.” Vai apresentar o espetáculo “Bloco na Rua”, que recentemente o levou a cantar frente a 45 mil pessoas no estádio do Palmeiras, em São Paulo, e que o traz de volta a Portugal para atuar no Coliseu de Lisboa, a 6 e 15 de setembro, e no Coliseu do Porto, no dia 12. Com 83 anos, acabados de completar, não parece querer abrandar o ritmo tão cedo. “Quando me dediquei à música, não sabia que me estava dedicando a ela”, confessa-nos, já perto do final da entrevista. “Achava que seria uma coisa passageira na minha vida, uma experiência que me faria crescer como ator, mas quando pus o pé no palco percebi que quero cantar enquanto estiver vivo.” No decorrer de uma conversa de mais de uma hora que, certamente, terá intrigado “Pretinha”, o cantor recordou os tempos da banda Secos & Molhados e a perseguição de que foi alvo num Brasil em ditadura militar, falou da sua fugaz história de amor com Cazuza, outro herói da música brasileira, vítima precoce do VIH/sida, das saudades que sente da “alma gémea” Rita Lee e da versão que fez de ‘Barco Negro’, que Amália terá chegado a ouvir.
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