Desmond Morris: como o espólio do autor de “O Macaco Nu” acabou na Universidade do Porto

Lembra-se como se fosse hoje da imagem das 80 caixas a serem içadas para o camião a partir da sua casa em Oxford. Era novembro de 2014 e Desmond Morris passara semanas a reunir e encaixotar a totalidade do seu arquivo científico para que, finalmente, longe das suas mãos, outros tivessem a oportunidade de o decifrar e estudar. O destino dessa preciosa carga não era uma instituição inglesa, como seria de esperar — até por ele próprio. Alguns meses antes, uma universidade de um país para ele remoto havia lançado um convite, usando uma argumentação que lhe pareceu acertada. “Se nos deixarem ficar com o seu arquivo, não vamos apenas guardá-lo, vamos utilizá-lo, analisá-lo. Teremos investigadores a trabalhar nele”, asseguraram. Ele sabia que, em Inglaterra, onde estão depositados os espólios dos mais notáveis cientistas do nosso tempo, o seu seria mais um. Iriam armazená-lo, mas dificilmente o abordariam. Decidiu então dar uma oportunidade ao intrépido país ‘remoto’. E essa é a razão por que as 80 caixas do célebre etólogo e zoólogo inglês viajaram para Portugal, mais exatamente para o Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto.