É assim há décadas: na quinta-feira mágica é lançado em todo o mundo, em simultâneo, o Beaujolais Nouveau. Conta-se mesmo que chegou a ser transportado no célebre avião Concorde para, em Nova Iorque, cumprir a data e ser aberto ao mesmo tempo, em todo o lado. O vinho é tinto, ainda que mais do lado do refresco, e tem origem na região que lhe dá nome, um pouco a norte de Lyon. Ali, em cerca de 20 mil ha (a área tem tido variações) e mais de 2500 produtores, planta-se sobretudo a casta Gamay. O método de produção (maceração carbónica) leva a que o vinho surja com pouca cor, leve no corpo, sem taninos complicados e com a frescura que a tenra idade lhe confere. Até aqui não descortinamos nada de tão especial assim. A região soube promover-se e, para isso, muito se esforçou Georges Duboeuf (falecido em 2020), conhecido como o papa ou o rei do Beaujolais, em virtude do esforço de uma vida para impor um tipo de vinho que contrariava tudo o que era moda desde os anos 80. De facto, com os tintos a partir dessa década a serem sujeitos à ditadura do gosto de Robert Parker, que privilegiava a estrutura, muita maceração, o álcool elevado e a madeira nova, estes vinhos abertos faziam figura de vinhos/refresco, que se bebiam frescos e que não se levavam muito a sério. O Beaujolais, acabadinho de sair da cuba, prontinho dois meses depois da colheita, era uma tentação.
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