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Património imaterial precisa-se: a candidatura do vinho da Madeira a património da UNESCO

Património imaterial precisa-se: a candidatura do vinho da Madeira a património da UNESCO
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A classificação poderá dar muitos frutos; não dará muito vinho, mas poderá, espera-se, pôr ordem na tribo

Portugal tem um conjunto de bens culturais que estão em lista de espera para serem considerados, pela UNESCO, como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Esta classificação abrange manifestações, já classificadas, tão diferentes como o fado, o carnaval de Podence, o cante alentejano ou a dieta mediterrânica (em associação com vários países da bacia do Mediterrâneo) e nesta categoria entraram também o Alto Douro Vinhateiro (2001) e a paisagem da cultura da vinha da ilha do Pico (2004). Todos sabemos o incremento e a valorização que regiões semiabandonadas tiveram com esta classificação. A ilha do Pico (Açores), por exemplo, tinha outrora sido uma ilha de quase monocultura da vinha, mas nos finais do século passado a área das vinhas abandonadas era imensa, com currais escondidos por baixo da mata. Foi a partir deste reconhecimento da UNESCO, e dos subsídios que então se conseguiram para a recuperação das vinhas, que se deu o renascimento que fez mais do que duplicar a área de vinha plantada que já ultrapassa largamente a área de vinha da Madeira. Ora, é precisamente a produção de vinho da Madeira que está em fase de candidatura à categoria de Património Cultural Imaterial da Humanidade. Esta candidatura obriga, em primeiro lugar, à inscrição no Inventário Nacional de Património Imaterial e, posteriormente, à organização de um dossier muito completo em que se explique o historial associado ao vinho, se compreenda a teia de relações sociais que, ao longo da história, se estabeleceram em torno do vinho (ainda hoje falamos de 1600 pequenos produtores), as técnicas de produção, transporte e armazenamento. O dossier será finalizado até setembro para, após análise minuciosa, ser (ou não) aceite, a partir de março de 2025. A Madeira bem que precisa. Em poucos anos a área de vinha baixou de 450 para os 400 ha (nos Açores já ultrapassou os 1100 ha), muitas das castas tradicionais estão pouco menos do que à beira da extinção (restam 4 ha de Terrantez, 14 de Bual), por exemplo. O que será expectável com a classificação da UNESCO? Mesmo que não estejamos a falar de um alargamento imediato da área de vinha, já será muito bom saber que vinhas não poderão ser arrancadas para construir casas e que, com a valorização dos preços pagos ao produtor, regresse a vontade de plantar vinhas que possam fazer aumentar a produção. Por agora, a situação não é famosa: mais de metade da área de vinha está ocupada com a casta Tinta Negra, que, pese embora o esforço de vários produtores em a valorizar, a verdade é que os vinhos das castas tradicionais estão, na minha opinião, num patamar muito, mas mesmo muito acima dos vinhos de Tinta Negra.

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