
É difícil o caminho da fama
A história dos vinhos rosés em Portugal remonta aos anos 40 do século passado quando foi lançado o Mateus Rosé e, em Setúbal, o Lancers. Com a fama que o primeiro adquiriu, não faltaram empresas a tentar replicar o modelo, não já com a garrafa tipo cantil, mas com outros formatos como botijas, uns com argola para segurar a garrafa, outros de vidro transparente que permitia ver a cor do conteúdo. Não é uma história grandiosa, digamos, já que as cópias nunca conseguiram atingir o prestígio do original. Na sequência de uma doença antiga de que o país padece, virou moda dizer mal do Mateus, mesmo por aqueles que ou nunca provaram ou não o bebem há décadas. Adiante. A verdade é que o produto resistiu e o Mateus ainda representa hoje cerca de 22 milhões de garrafas (dados de 2024). Foi preciso esperar pelo final do século, mas sobretudo neste, para começarem a surgir outro tipo de rosados, sem gás, alguns sem açúcar e feitos de outra maneira e com outros objetivos. O país está hoje inundado de rosés. Uns são fáceis de fazer e resultam baratos porque derivam da sangria das cubas; outros são caros porque são mais exigentes na vindima e na adega. O perfil foi internacionalmente moldado pelo estilo da Provence (levemente salmonado na cor, seco e a pedir esplanada e piscina), apresentam-se como vinhos para beber no ano e, entre nós, existem com esse perfil em todo o país. Não é desses que falamos hoje. Quando um produtor espanhol (Lopez Heredia) começou a vender rosés com 10 anos de cave, a “agulha” mudou e os rosados começaram a ser encarados como vinhos que poderiam ter outro recorte. Entre nós passou a haver rosés com boa longevidade (caso do Redoma, por exemplo) e o perfil também se alterou, como é o caso do rosé Andres Herrera que hoje sugiro. O que distingue então estes rosés de tipo novo, se comparados com os rosés de esplanada? Mais cuidados na vinha, vindima especificamente para rosé, mais estágio em madeira e, nalguns casos, uma longa espera em garrafa antes da comercialização são alguns argumentos que justificam depois o preço. Ficamos assim a conhecer vinhos que têm muito boa complexidade, que não se devem beber à pressa e que podem ser extremamente desafiantes num paring com a comida. Um rosé complexo, com idade e com um estilo fora da norma, pode originar uma relação incrível com o prato que lhe for associado.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt