Vinhos

Os concursos de vinhos e as razões para ir e para não ir: daqui até ao verão não vão faltar

15 abril 2023 8:36

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João Paulo Martins revela semanalmente os segredos do mundo dos vinhos

15 abril 2023 8:36

É com a chegada da primavera que começam a ser anunciados os concursos de vinho a nível regional, nacional e mundial. Com frequência, em cada região demarcada são organizados concursos que apenas se destinam aos vinhos dessa mesma região. Convidam-se provadores vindos de fora, nomeadamente de Câmaras de Provadores de outras regiões, imprensa, bloggers e sommeliers e, com um conjunto alargado de ‘narizes’, chega-se aos vencedores. Pode ser-se premiado por tipo (branco, tinto, rosé, espumante, por exemplo) ou por casta. Os concursos nacionais são mais abrangentes e envolvem provadores nacionais e estrangeiros, como é o caso do Concurso da ViniPortugal que terá lugar em maio. Os internacionais, como o nome indica, podem ser certames gigantescos, com o número de amostras a ultrapassar as 10.000 e centenas de provadores oriundos dos quatro cantos do mundo. Nem sempre é fácil perceber o que leva um produtor a enviar amostras a concurso e um outro a recusar esse envio. As medalhas conquistadas podem ser muito úteis, sobretudo quando o produtor busca novos mercados e novos importadores; vários vinhos medalhados são um certificado de garantia para o importador. E, a não existirem, o importador pode torcer o nariz e dizer a frase fatal: ok, depois entro em contacto consigo! Acontece com frequência que uma empresa envia vários vinhos para prova e os mais baratos saem com medalhas e outros, de um patamar mais alto, não conquistam nada. Explica-se facilmente: numa roda de 10 vinhos de fraca qualidade, um vinho que sobressaia pode ganhar um ouro ou prata; noutra mesa, com outros provadores, um bom vinho num painel de grandes vinhos, pode sair sem selo. É vulgar acontecer e é normal. Por norma, o que temos visto nas empresas portuguesas é a recusa em enviar os seus topos de gama ou vinhos especiais para concursos. É uma forma de defesa em relação ao que atrás disse (poderem sair sem medalhas) e porque há vinhos que têm de ser contextualizados para serem devidamente apreciados. Esses vinhos, perdidos no contingente geral, saem invariavelmente mal classificados. Ora, a inscrição de vinhos nestes concursos internacionais é muito onerosa (mais de €100 por amostra, mais portes de envio), o que faz com que a decisão deva ser muito ponderada. Para quem prova é muito difícil captar pequenas nuances que este ou aquele vinho podem ter (a prova é cega) e por isso valem sobretudo as características mais evidentes e que têm de ser iguais em todo o mundo: limpidez, aroma impressivo com elementos atrativos (fruta, vegetal, mineral, madeira ou outros também positivos como sensações empireumáticas), bom equilíbrio de prova de boca, boa proporção entre os vários elementos. Sejamos claros, por vezes há vinhos de preço reduzido que preenchem estes valores e por isso ganham medalhas. No entanto, se o seu vinho é específico, é caro por um conjunto de razões que você sabe e o consumidor valoriza e sai ‘fora do baralho’ e, se tem amor ao seu dinheiro, então fique sossegado e não envie nada. Assim evita desgostos e lembre-se: o erro foi seu, não de quem provou o seu ao lado de vinhos do México, da Índia ou da Bulgária.