Restaurantes: o turismo cria preconceitos, ajuda a fazer cair outros e a ver onde pouco se espera encontrar

A opinião do crítico gastronómico Fortunato da Câmara
Não há muitos rodeios com a questão. Alguma nova restauração de Lisboa, e parece que também do Porto, está a transformar os portugueses em civis non grata. São cada vez mais os espaços com sites sem o idioma português, no local o atendimento é direto em língua estrangeira, por vezes quase ninguém fala português, e os menus em língua portuguesa têm de ser solicitados. Os portugueses não são os clientes mais bem-vindos, se vierem lá terão que ser atendidos, mas com especial favor. Isto de andar aqui há 900 anos parece não dar direito a mordomias. Ter euros ou não ter, eis a inflação!
Este turismo de… segmentação, vamos chamar-lhe assim, pois segregação é capaz de ser forte, para já! Escolhem-se os clientes mais rendosos pelo consumo e potencial de gorjeta. O juízo nacionalista de empresários de vistas curtas, pode obrigar clientes regulares de restaurantes, daqueles que voltam (são cada vez menos), a procurarem lugares improváveis. Em finais do século passado a comédia teatral “Há Petróleo no Beato” terminava com a suposta descoberta de petróleo no então campestre Algueirão. O petróleo de hoje é o turismo, mas as melhores descobertas são as que estão fora do radar. A ideia de explorar os arredores dos grandes centros urbanos começa a deixar de ser um mito para se tornar realidade quando se entra no restaurante A Oliveira.
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