"Olhó peixe fresquinho.” Salta à memória um mercado a que nunca se foi. Na imagem, um mar de pessoas que analisam peixes sobre o gelo semipicado em bancadas compridas. Na de Clara Santos o peixe é fresco, “fresquinho”, e pescado diretamente de águas portuguesas — à exceção, segundo a própria, da garoupa. Naquele dia, a propaganda de pulmões cheios não ecoava nas paredes do Mercado de Alvalade, em Lisboa. Não àquela hora. A poucos minutos das 14h, quando se fecham as portas, já só se ouvem as pás que salpicam no gelo que volta a cobrir a mercadoria na arca frigorífica que lhes garante a frescura para o dia seguinte. “Ao menos temos a tarde livre”, sorri Carla. Em breve faz 53 anos e desde 1996 que segue as pisadas da mãe, Clara Santos de 77 anos. Mesmo depois da reforma, continua a prestar visita semanal àquela pequena área de mercado que a filha herdou.
O trabalho é muito — não fosse Portugal o país que, per capita, mais peixe consome na União Europeia (UE), assumindo o terceiro lugar do pódio mundial. Mas a experiência de Clara confere-lhe uma garantia: “Antigamente vendia-se melhor.” O problema, continua, é que “agora não há dinheiro”. E sem dinheiro, a pesca aos melhores do mercado não existe. De acordo com o Eurobarómetro de 2021, uma das principais considerações que os portugueses (60%) fazem no momento da compra é o custo do peixe. Ainda assim, 77% dos inquiridos valorizam a sua aparência, frescura e apresentação.
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