Na terra como no céu: “Finisterra” viaja até ao Algarve dos anos 40 com um pé na realidade e outro na fantasia

“Finisterra” é uma série portuguesa de raiz fantástica, com nazis nos céus e bruxas no montado. Em exibição na RTP
“Finisterra” é uma série portuguesa de raiz fantástica, com nazis nos céus e bruxas no montado. Em exibição na RTP
Crítico de Cinema
O tom instala-se desde as primeiras sequências. O tom e o modo. Há uma criança doente, uma história medonha com mouras encantadas, um homem estranho, hirsuto e andrajoso a viver numa gruta, misteriosos aviões a cruzar os ares, enguias negras que se confundem com pedras e lodo, há beberagens e um cadáver a dar à praia. Tudo em torno de um monte ermo, no barlavento algarvio, em 1943, a crer na legenda inicial. O tom é de inquietude e mistério, perturbação, o foco é numa rapariga energética, de beleza calma, nome etéreo (Celeste) e génese turbada, herdeira de uma linhagem onde o Mal corre nas veias. Se é que tal coisa existe... O modo é o de ir desenrolando cenas e personagens — e até, em algumas zonas, tempos — sem cuidar de explicações imediatas, como quem desdobra, em cima de uma mesa, as peças de um quebra-cabeças, cumprindo ao espectador a tarefa de as encaixar. E haverá bruxas ou, pelo menos, visões orgásticas, porventura demoníacas, magma de corpos em libidinosa efervescência, tentações, promessas de fogo eterno. Não há maneira de resistir, como Marcelino irá experimentar.
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