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Jennifer Coolidge repete a dose nos Globos de Ouro: o que trouxe “The White Lotus”, que lhe valeu um prémio pelo segundo ano consecutivo?

Jennifer Coolidge repete a dose nos Globos de Ouro: o que trouxe “The White Lotus”, que lhe valeu um prémio pelo segundo ano consecutivo?
Fabio Lovino/HBO

O sucesso da série “The White Lotus” abriu caminho para uma segunda temporada e a crítica voltou a premiá-la: a série da HBO Max venceu Melhor Série Limitada e Melhor Atriz, para Jennifer Coolidge, fazendo da atriz bicampeã nesta gala de prémios. Os atores Tom Hollander e Leo Woodall falaram ao Expresso sobre a nova história, distinguida na última noite em Los Angeles

Foi um sucesso de audiências, conquistou a temporada de prémios — na última cerimónia dos Emmys, foi premiada em dez de 20 nomeações — e regressa agora para repetir o triunfo. Uma nova história, num novo resort de luxo, com novas personagens. Tudo é novo na segunda temporada de “The White Lotus”, à exceção — e ainda bem para os fãs — de Jennifer Coolidge, que volta a dar vida a Tanya McQuoid, num novo ângulo. O que esperar? Na receita de Mike White, argumentista por trás da criação do êxito, a base satírica é a mesma, o que varia são os ingredientes. Se a primeira temporada nos serviu uma dose dupla de abusos de poder e luta de classes, desta vez o ambiente distópico sufoca as relações interpessoais das personagens, passando o foco para a toxicidade e a sexualidade.

“Mas como é que há de ser tão bom quanto a temporada anterior”, é esta a pergunta que de imediato invade o elenco desafiado a dar continuidade à série. Quem o conta ao Expresso é Tom Hollander — ator conhecido do público por “Orgulho e Preconceito”, entre muitos outros títulos, e escolhido para interpretar Truman Capote na próxima temporada de “Feud”, em 2023 —, que interpreta Quentin, um homem “rico o suficiente para viver como quer, porque pode”. Pode ele e pode o sobrinho, Jack. Quem lhe veste a pele é Leo Woodall (de “Cherry” e “Vampire Academy”), que não tem grandes dúvidas no que diz respeito ao sucesso deste segundo “The White Lotus”. “As pessoas já sabem o que esperar e acho difícil não se ficar maravilhado.” Os dois entram a meio da trama para dar uma nova luz às personagens que já lá coabitam.

Uma família de três gerações de homens. Dois casais “amigos”, absolutamente antagónicos, cujas interações são (no mínimo) constrangedoras. Uma mulher que, ao lado da assistente, encontra-se com o marido no destino. São estes três núcleos, em volta dos quais se desenlaça a história, que desembarcam na ilha de Sicília, Itália, para umas férias luxuosas no resort White Lotus, com tudo para correr bem — embora tudo corra mal, não estivesse o grupo fatidicamente destinado às consequências das suas próprias personalidades.

A família Di Grasso, composta por Bert (F. Murray Abraham), Dominic (Michael Imperioli) e Albie (Adam DiMarco), representam uma antítese geracional. Um avô, cuja velhice o presenteou não somente com flatulência, mas com o despropósito das suas intervenções; um pai infiel, que se recusa a responsabilizar-se pelo casamento falhado; e um filho que quer romper com uma herança hereditária machista no que toca a relacionamentos. Daphne (Meghann Fahy) e Cameron (Theo James) são um casal aparentemente perfeito. Harper (Aubrey Plaza) e Ethan (Will Sharpe) são um casal aparentemente normal. O que têm em comum? Nada — ou quase, mas decidiram ainda assim embarcar na viagem em conjunto, tornando óbvias as intenções de se relevarem em relação aos seus homólogos.

De sicilianas locais, além de Valentina, gerente do hotel e única que parece estranhar quem a rodeia, temos duas, Lúcia e Mia, acompanhantes de luxo que, episódio a episódio, vão interferindo na estada dos hóspedes, parecendo desfrutar de duas realidades dicotómicas: a exuberância das festas e as quatro paredes da sua vida infeliz.

A única que parece não esconder a sua infelicidade é Tanya, que antecipava uma semana romântica com o também retornado Greg (Jon Gries), mas que acaba por partilhar a estada com Porshia (Haley Lu Richardson), sua assistente. As duas vivem nesta bolha de insatisfação, até à chegada de Quentin e Jack, uma lufada de ar fresco que, nas palavras de Tom Hollander, lhes proporcionou uma sensação de “alívio, renovação e diversão”. Uma diversão por vezes desajustada, mas “muito divertida”, conta Leo Woodall: “consistiu em festa, festa, festa”. Em contrapartida, Tom revela que estas cenas são mais difíceis de “fazer com que se pareça real — na verdade não é assim tão giro”.

No que toca à química entre os dois atores, Leo refere que têm “muito em comum” além das raízes, e a liberdade com que puderam interpretar as suas personagens ajudou a desenvolverem uma profunda cumplicidade. Segundo Tom, “o Mike [White] deixou-nos brincar com o diálogo para que pudéssemos torná-lo mais britânico”.

DO HAVAI PARA A SICÍLIA

As gravações levaram o elenco ao preciso local retratado na série: um hotel na ilha da Sicília; onde ficaram alojados durante vários meses. “Nós estávamos mesmo lá a ter essa experiência. Não estava mais ninguém, era um paraíso puro”, relata Leo. Tom concorda, “é um enorme privilégio, daqueles momentos em que temos que nos beliscar e pensar no quão sortudos somos, qualquer sítio para onde me virava, dava para ver o Monte Etna e isso é algo que não esquecerei”.

Igualmente inesquecível é esta comédia dramática, que culmina no desfecho misterioso anunciado nos primeiros minutos, voltando a beneficiar de um brilhantismo de autor, cuja ousadia permite esmiuçar a complexidade das relações humanas. A segunda temporada de “The White Lotus” vai abrindo caminho para o clímax com uma melodia de fundo ajustável à tensão da narrativa — cujo critério volta a ser a subtilidade. A própria tragédia final é indiciada pela lenda siciliana que abre o enredo: teste di moro.

Segundo ditados populares, as cabeças de cerâmica — objeto da temporada, que acompanha as ações dos intervenientes, observando-os de perto — contam a história de um romance que nasce de uma traição. Um homem, com mulher e filhos, viaja para a Sicília onde se envolve com uma local. Ao descobrir, a siciliana serve a vingança num vaso de flores. Um vaso constituído pela cabeça decapitada do traidor.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mortigaodelgado@gmail.com

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