Numa das cenas da peça “Calderón”, de Pasolini, um homem pergunta a uma rapariga se ela leu “A Vida É Sonho”, de Calderón de la Barca (1600-1681). Ela só ouviu falar; o homem faz-lhe um breve resumo: “Havia um rei, profeta, que lera no futuro/ que o seu filho (Segismundo, como eu, que coincidência)/ o iria assassinar. Mandou-o então encerrar numa torre,/ agrilhoado, afastando-o como um monstro da vida./ Mas um dia o rei arrependeu-se. E quis/ fazer uma experiência, para verificar as suas profecias./ Mandou libertar o filho, após tê-lo/ adormecido profundamente com lendários narcóticos/ e despertou-o na corte, numa cama/ estupenda, toda de linho e brocados. Para Segismundo,/ isto era um sonho, evidentemente. No sonho, porém,/ viu uma mulher, por quem se apaixonou. O sonho estava destinado/ a acabar (e de facto Segismundo foi de novo encerrado,/ readormecido, na sua torre): o sonho estava destinado a acabar/ mas não o seu amor. No novo/ sonho havia um sentido que continuava. O que/ quis dizer, com isto, Calderón?”
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