
Na produção de “Salome” para o Met, Claus Guth não só a salva, como a multiplica
Na produção de “Salome” para o Met, Claus Guth não só a salva, como a multiplica
O responsável é o compositor, Richard Strauss (1864-1949), que paradoxalmente imaginou a protagonista da “Salome” (1905) como “uma menina de dezasseis anos com a voz de Isolde”. Também lhe exigiu um corpo de bailarina para aguentar o célebre strip-tease da dança dos sete véus — o ápice dramático-musical da ópera (baseada na peça homónima de Oscar Wilde, estreada em Paris em 1896). O encenador Claus Guth aproveitou o ícone do drama — a cabeça de João Baptista — para entrar freudianamente na cabeça de Salomé. Vê-a como uma rapariga violada e marcada pelo padrasto (Herodes Antipas) desde a infância. Despertada sexualmente pelo corpo alvo do Baptista (Jochanaan), Salomé acaba por exigir a cabeça deste como prémio (aplaudida pela mãe, Herodias, agastada com as denúncias do profeta). Se o drama da “Tosca”, de Puccini, foi descrito como “rascamente chocante” (J. Kerman, 1952), que direi da “Salome”?
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