Entrevista a Kim Gordon, ex-Sonic Youth: “1970 foi o ano em que acabei o liceu, o princípio da exploração em massa dos jovens como mercado”

É com um sorriso algo malicioso que Kim Gordon pontua a sua descrição do álbum que acaba de editar, “The Collective”: “Inspira-se num livro, ‘The Candy House’, que nos fala de um futuro próximo”, explica, com a palavra “futuro” a espoletar a primeira breve gargalhada. “O livro fala de uma invenção que nos permite aceder às memórias de outras pessoas e sentir o que elas sentem, mas para conseguir isso uma pessoa tem de carregar as suas próprias experiências e memórias, tornando-se, lá está, uma parte do coletivo. Tem qualquer coisa de ficção científica.” A segunda dose de riso chega com a menção do género literário em que se poderá inscrever o mencionado romance de Jennifer Egan, trabalho publicado em 2022 e amplamente aplaudido pela crítica americana: “Ela sabe para onde vai e os efeitos polifónicos que quer alcançar”, escreveu Dwight Garner no “The New York Times”. “E ela alcança tudo isso como se estivesse a escrever num tipo de MacBook que só existirá daqui a uma década.” Kim Gordon, a um mês de comemorar o seu 71º aniversário, parece igualmente ter acabado de chegar do futuro, apesar de ostentar uma camisola de lã tricotada com a data “1970” estampada: “Ah, é apenas uma camisola de uma designer amiga, Bella Freud, foi ela que ma enviou. Achei graça, porque 1970 foi o ano em que acabei o liceu... o princípio da exploração em massa dos jovens enquanto mercado.”