Música

“A Missa em Si Menor”, de Bach, por René Jacobs: êxtase sagrado

21 agosto 2022 16:49

Ana Rocha

Uma obra grandiosa magistralmente dirigida

21 agosto 2022 16:49

Ana Rocha

René Jacobs (Gante, 1946) dirige a grandiosa obra, uma composição tão brilhante quanto proteiforme em que as partes mais antigas remontam ao Natal de 1724, altura em que foi escrito o Sanctus. Em 1736, Bach foi finalmente nomea­do como compositor da capela da corte de Frederico Augusto III, príncipe-eleitor e rei da Polónia, passando então a integrar na “Missa em Si” as partes do Kyrie e da Gloria compostas três anos antes.

“Passo a vida em contrariedades perpétuas e sou objeto de invejas e perseguições”, lastimou-se Bach numa carta a Georg Erdmann. Outras etapas da “Missa” (BWV 232), considerada como o seu testamento musical, ocuparam-no até ao final da vida. Especialistas como Gilles Cantagrel e Philippe Charru destacaram o carácter ecuménico da obra, vendo-a como uma missa católica pela sua forma e luterana pelo seu espírito, numa cidade muito próspera que albergava as duas confissões religiosas e com uma corte convertida ao catolicismo em 1697. “Os solistas e o coro devem agir como sendo uma peça una, pois não compreendo as árias e os duetos como números a solo e os solistas tiveram de se integrar numa massa vocal capaz de refletir a Humanidade em toda a sua diversidade”, comenta o maestro belga no livrinho que acompanha a edição, explicando que os cinco solistas tiveram intensa experiência coral. A aspiração soberana à clareza polifónica da orquestra alemã e a intensa agitação das massas corais do RIAS Kammerchor (nunca deixou de crescer a reputação do coro fundado em Berlim em 1948) levam a interpretação da monumental obra aos píncaros. A conceção de conjunto de Jacobs levou-o a adotar tempos propícios à reflexão e à emoção, sabendo ele como conduzir os ouvintes no caminho de um êxtase sagrado. / Ana Rocha