Música

Angel Olsen apresenta-nos à dor que conforta. “Big Time” é um álbum majestoso

10 junho 2022 23:06

Rui Miguel Abreu

Angel Olsen ao sexto álbum. A 26 e 27 de setembro atua no Capitólio, em Lisboa

angela ricciardi

Três anos depois de “Whole New Mess”, a norte-americana Angel Olsen regressa com um álbum que se seguiu a várias experiências dolorosas. Um triunfo inegável

10 junho 2022 23:06

Rui Miguel Abreu

Angel Olsen entrou numa máquina do tempo, viajou até à Los Angeles pré-psicadélica e arranjou maneira de ir para estúdio com membros da notória Wrecking Crew, como o baterista Hal Baine, a baixista Carol Kaye ou o teclista Larry Knetchel, gente que deu a gravações de Nancy Sinatra, Glen Campbell ou até Beach Boys uma inefável elegância e uma distinta classe, plenas de brilho técnico cromado e de inventiva e colorida musicalidade. Foi de um estúdio algures no Laurel Canyon que, depois, a cantora de “My Woman” e “All Mirrors” regressou ao presente, carregando as fitas contendo a música de que se faz o novíssimo “Big Time”, um triunfal arco de canções sobre a perda e o desamor, sobre o desalento, mas também a esperança e a doçura. Nada disto aconteceu, claro, mas só porque as leis da física ainda não o permitem. Já o pensamento, esse ninguém o trava, e este novo álbum da cantora nascida em St. Louis, no Missouri, o sexto da sua carreira, parece guiado por essa matéria diáfana que se solta dos sonhos e que inclusivamente a inspiraram a criar, juntamente com Kimberly Stuckwisch, um filme que traduz em imagens o complexo lastro emocional do novo álbum. “Quando a minha mãe morreu, comecei a ter estes sonhos ultra visuais acerca de viagens no tempo”, explicou a cantora no texto de apresentação do disco. “Mais tarde decidi que daria ao disco o título ‘Big Time’, não apenas por causa da canção, mas como uma espécie de piscadela de olho à expansão do tempo e à mudança.” A morte súbita dos seus pais, em 2021, perante quem tinha assumido recentemente a sua orientação sexual, e um romance dolorosamente falhado inspiraram a caneta de Olsen num disco que parece ir ainda mais longe do que os antecessores — e tendo em conta a aclamação crítica que sempre envolveu o seu trabalho, isso é dizer bastante.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.