Os contos cruéis da juventude e da velhice reunidos em “O Medo do Céu” (1994) não têm enredos, mas situações; não têm motivos, mas maus instintos. O primeiro começa assim: “Enfim, detestava-a.” O sujeito da frase é uma mãe; o objecto, a filha, da qual a mãe se quer desembaraçar. Outros textos alinham pelo mesmo diapasão: uma adolescente tem sexo e no fim diz “obrigado”; homens e mulheres que não conseguiram ter filhos ou os perderam vivem com esse ressentimento; há uns órfãos gémeos e selvagens; marido e mulher celebram “meio século de convivência” e só essa expressão já sugere tédio e acrimónia.
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