
“Conta-Corrente” é um dos raros exemplos de diarística literária em Portugal. Agora reeditado, o próprio escritor considerava-o um modo de se libertar para tarefas maiores
“Conta-Corrente” é um dos raros exemplos de diarística literária em Portugal. Agora reeditado, o próprio escritor considerava-o um modo de se libertar para tarefas maiores
Jornalista
A diarística literária não é um género muito cultivado em Portugal. Talvez isso aconteça, em parte, por receio de ofender colegas (um diário literário sem quadrilhice ou má-língua parece hoje quase um contrassenso) e em parte por falta do talento específico que esse género requer. Não deve haver muitos escritores com capacidade e cultura para fazer juízos interessantes – de preferência equilibrados, até por razões de sustentabilidade – sobre assuntos extremamente diversos. Ressalvando que nesta modalidade literária, como em todas, se encontra de tudo, até obras de génio que dispensam quaisquer regras, um bom diário de escritor combina normalmente registos que podem ir de uma curta descrição ou observação a uma reflexão, ou um relato desenvolvidos, a respeito de uma situação de natureza pessoal ou pública. Utilizando uma expressão que Vergílio Ferreira aprecia, um diário pode servir para o escritor se aliviar de certos detritos e libertá-lo para tarefas maiores. Não surpreenderá que esses detritos, uma vez recolhidos e publicados, se tornem uma parte maior da sua obra, eventualmente a mais popular, e certamente a mais falada se conseguirem gerar polémica envolvendo terceiros concretos. Assim aconteceu com estes diários várias vezes.
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