
Após a morte do pai, Djaimilia Pereira de Almeida reagiu ao vazio herdado com um livro que parte do luto em muitas direções, reavivando feridas e fantasmas, sempre fora de pé
Após a morte do pai, Djaimilia Pereira de Almeida reagiu ao vazio herdado com um livro que parte do luto em muitas direções, reavivando feridas e fantasmas, sempre fora de pé
Durante décadas, Joaquim Pereira de Almeida, homem de “mil e uma histórias” e jornalista de memória prodigiosa, sonhou com uma obra imensa que corresponderia ao seu “salto inaugural”, das páginas dos jornais para o panteão da literatura. O romance em que pretendia “contar a sua vida” inteira, e com ela a “história de África”, tornou-se um “colosso” adiado, uma utopia, mas também uma “némesis”. Gradualmente, o livro intangível, só real dentro da sua cabeça, foi revelando-se uma quimera: “Estava tão perto que lhe fugia.” Joaquim dizia à família que a obra avançava, mas não mostrava a ninguém o ficheiro guardado no computador. Talvez porque o texto não existia, nunca chegou a materializar-se. No momento da sua morte, durante o confinamento da pandemia de covid-19, restava apenas uma pasta com recortes de jornais antigos, fotografias e “objetos sem valor, que só estimo por saber que ele os tocou”.
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