
A coleção de poemas reunidos sob o título “A Flor Cadáver” centra-se no extraordinário poder daquilo que o corpo rejeita e expulsa, e não é à partida digno de um poema. Mas quem disse que o lirismo não se pode conjugar com a escatologia?
A coleção de poemas reunidos sob o título “A Flor Cadáver” centra-se no extraordinário poder daquilo que o corpo rejeita e expulsa, e não é à partida digno de um poema. Mas quem disse que o lirismo não se pode conjugar com a escatologia?
Sempre houve na poesia de Jorge Sousa Braga, várias vezes reunida sob o título “O Poeta Nu”, uma tensão entre os temas clássicos da lírica (o amor, a beleza, a aspiração ao sublime) e aqueles que costumam ser excluídos da esfera poética, por serem considerados excessivamente prosaicos e indignos de um olhar artístico, ou por destaparem inconveniências e tabus. O genial título da sua obra de estreia (“De Manhã Vamos todos Acordar com uma Pérola no Cu”, Fenda, 1981) era desde logo um programa: conciliar a perfeição estilística (a pérola) com a natureza mais visceral e crua da experiência humana (o cu). Uma consciência permanente de que o poeta, no intervalo das suas iluminações e metáforas, também defeca.
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