“Sinto uma imensa felicidade.” Assim reage Celso José da Costa à notícia de ter ganhado a edição de 2022 do Prémio LeYa. Ao telefone desde o Rio de Janeiro, o autor de “A Arte de Driblar Destinos”, confessa ao Expresso que acreditava no potencial do livro que passou os últimos três anos a escrever.
Aos 73 anos, esta foi a primeira vez que concorreu a um prémio literário, e fê-lo com o seu segundo romance — o primeiro foi “A Vida Misteriosa dos Matemáticos”, cujo título não deve surpreender quem conhece a biografia do escritor. Professor universitário de Matemática na Universidade Federal Fluminense, membro da Academia Brasileira das Ciências, ele conta que a dada altura do seu percurso teve “a felicidade de ter resolvido um problema matemático com 206 anos”, dando origem a uma superfície que, internacionalmente, é hoje conhecida como “superfície Costa”.
“Sempre gostei de ler e de escrever”, afirma, notando que o livro vencedor do LeYa é “uma auto-ficcção”: “Ele narra uma saga de superação. Nasci no interior do Paraná, num lugar muito pequeno, e a saga é justamente o modo como saí desse lugar em condições muito precárias, tentando resolver a vida por meio da educação."
“É um livro que resgata a memória de um tempo vivido. Mas claro que existe uma elaboração, uma linguagem poética forte”, explica Celso José da Costa. O romance acaba quando o protagonista chega “à capital para estudar”, o que de certo modo aconteceu na vida do autor. Chegado a Curitiba aos 19 anos, estudou primeiro engenharia e medicina antes de se decidir pela matemática.
Após os estudos superiores no Rio de Janeiro, viveu ainda três anos em França, onde foi professor das Universidades de Chambery e de Grenoble, além de ser diretor de investigação do CNRS — Centre Nationale de la Recherche Scientifique, o maior órgão público de pesquisa científica francês e um dos mais importantes do mundo.
Apoio a Lula da Silva
Como todos os brasileiros, também ele está expectante face ao resultado das eleições do dia 30 de outubro: “Espero que Inácio Lula da Silva saia vitorioso. Vai ser. Seria a segunda grande notícia que recebi este ano.”
Celso José da Costa vence o Prémio LeYa, cujo valor pecuniário é de 50 mil euros, com “ A Arte de Driblar Destinos”, que assinou com o pseudónimo de Fagundes Andrade, um ano depois de José Carlos Barros, ter ganho com “As Pessoas Invisíveis”. O júri, presidido por Manuel Alegre — e formado por Ana Paula Tavares, Isabel Lucas, Paulo Werneck, Lourenço do Rosário, José Carlos Seabra Pereira e Nuno Júdice — disse que a obra "reflete muito bem, com ritmo e vivacidade, o mundo social do interior do Brasil”.
O livro concorreu com 218 originais a concurso, oriundos de países tão diversos como Portugal, Espanha, Holanda, Brasil, Inglaterra, Moçambique, Polónia e Japão. O prémio, atribuído há já 15 anos, distinguiu nomes como João Ricardo Pedro, Nuno Camarneiro, João Paulo Borges Coelho, António Tavares, Itamar Vieira Júnior e Afonso Reis Cabral, João Pinto Coelho, entre outros, sendo a portuguesa Gabriela Ruivo Trindade a única mulher que até hoje o recebeu.
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