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Cinema: Os últimos dias da deusa Callas, muito mais que uma mulher

Angelina Jolie assina em “Maria” uma interpretação esplêndida. E parte da voz cantada que ouvimos no filme é dela
Angelina Jolie assina em “Maria” uma interpretação esplêndida. E parte da voz cantada que ouvimos no filme é dela

Depois de se debruçar sobre Jacqueline Kennedy e a princesa Diana, Pablo Larraín fecha a trilogia sobre trágicos mitos femininos no século XX com um filme sobre Maria Callas. Desta vez, sem qualquer atitude naturalista e a escolha perfeita de Angelina Jolie para protagonista: para desempenhar este papel, a atriz-estrela até aprendeu a cantar ópera

Cinema: Os últimos dias da deusa Callas, muito mais que uma mulher

Jorge Leitão Ramos

Crítico de Cinema

“Olha: Será que é uma estrela/ Será que é mentira/ Será que é comédia/ Será que é divina/ A vida da atriz?” Sim, é oportuno ir buscar à memória a canção de Chico Buarque e Edu Lobo quando se acede a “Maria” de Pablo Larraín, lugar derradeiro da trilogia do cineasta chileno sobre mulheres com trágicos destinos na mitologia do século XX. Primeiro Jacqueline Kennedy (“Jackie”, 2016), logo a princesa Diana (“Spencer”, 2021), agora a diva sobre todas as divas, Maria Callas, na semana terminal de vida. Callas, a olímpica soprano que pôs de joelhos as plateias de ópera do mundo, a materialização de uma criatura lendária cuja existência tumultuosa parece saída dos librettos do bel canto oitocentista — maior que a vida, nos triunfos e nas calamidades. Para a História do século, Callas não foi uma pessoa, foi uma personagem, alguém que construiu uma máscara, como escreveu Álvaro de Campos, pegada à cara. Para a representar era preciso alguém que soubesse o que isso era — e a escolha de Angelina Jolie aparece perfeita. Ela não é uma grande atriz, como Meryl Streep, é uma star. Porque o público, na verdade, vai à sala de cinema primeiro para ver Angelina Jolie e só depois para ver Angelina Jolie a interpretar Maria Callas. E nós, na postura do locutor da canção, na fascinação de um artifício onde nunca sabemos qual a parte de verdade. Mas, digo já, antes que o texto avance e o espaço escasseie, a interpretação é esplêndida, fruto de uma preparação forcejada meses a fio pela atriz, na postura, no sotaque, na modulação vocal. Porque uma parte da voz da Callas no filme deve-se a Angelina Jolie. Sim, ela canta.

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