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Cinema: “Estamos no Ar”, ou as saudades de sentir uma coisa qualquer no cinema português

Gente sem rumo em movimento perpétuo: Anabela Moreira e Sandra Faleiro, em “Estamos no Ar”
Gente sem rumo em movimento perpétuo: Anabela Moreira e Sandra Faleiro, em “Estamos no Ar”

“Estamos no Ar” tem maturidade e demonstra que Diogo Costa Amarante não se contenta em contar uma história, faz cinema: compõe os planos com minúcia, arquiteta ligações de montagem produtivas, usa a cor de modo significante, cuida do ritmo e da densidade sonora. E caldeia as emoções de modo a nem tombar na secura, nem se espojar no melodrama

Cinema: “Estamos no Ar”, ou as saudades de sentir uma coisa qualquer no cinema português

Jorge Leitão Ramos

Crítico de Cinema

Ela só soube no funeral do marido: ele comprara dois espaços perenes no chão do cemitério, marcando, assim, lugar para a mulher, ali mesmo ao lado. E ela nem quer ser enterrada, prefere a cremação. Talvez por isso, o defunto esteja longe de jazer apaziguado, persegue-a, sobretudo de noite, quando ela se deita com uma nova amiga, no quarto do lar de idosos onde agora vive. E, garanto: ouvir as imprecações dele, na voz de Luís Miguel Cintra a habitar o corpo de outra pessoa, faz mesmo medo. E um sorriso. Porque o homem não parece verdadeiramente mau, é só um tipo que morreu e se sente só, mas, se calhar, já assim se sentia em vida, como muita outra gente, pelo menos a avaliar pela amostra humana que este filme exibe. Mas o olhar de Diogo Costa Amarante, sem escalpelo, nem escárnio, tem compaixão para nos acalentar. Daí que haja um pingo de tristeza, um pingo de alegria branda — a materializar o tal sorriso. Breve.

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