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Cinema: “O Teu Rosto Será o Último”, de Luís Filipe Rocha, é a história de um génio

Vicente Wallenstein é o ator que encarna Duarte, o prodígio do piano, na idade adulta
Vicente Wallenstein é o ator que encarna Duarte, o prodígio do piano, na idade adulta

Quando o pianista se cala: história de um génio sob a canga da História no mais recente filme de Luís Filipe Rocha, com quem o Expresso conversou

Cinema: “O Teu Rosto Será o Último”, de Luís Filipe Rocha, é a história de um génio

Jorge Leitão Ramos

Crítico de Cinema

Quando o filme começa, Marcello Caetano está cercado no Largo do Carmo, mas a rotina das gentes rurais está bem longe de Lisboa e não muda. Quer dizer, não muda logo, mas vai mudar, porque, quer queiram quer não, a História há de ir ter com eles. Para começo de conversa, ainda na capital nenhuma arma se disparou e já ali corre sangue, das galinhas com que dona Laura se abasteceu para o almoço de algumas das gentes do lugar, do padre ao barbeiro, que à casa do doutor Augusto Mendes acorrem. Não é contudo da Revolução dos Cravos que trata o mais recente filme de Luís Filipe Rocha, mas da peculiar história de Duarte, neto de Augusto e de Laura, que numa manhã de Natal se vê presenteado com um pequeno piano elétrico, todavia mudo, à falta de pilhas. Logo ali, porém, Duarte se põe a teclá-lo, obsessivo, apesar de nenhum som dele se extrair. Parece “possuído por alguma coisa ruim”, de pronto aventa a avó, diante do protesto dos restantes membros da família. Tem razão. Revelado que o miúdo tem um dom — o professor de piano que os pais contactam diz mesmo que nunca viu nada assim —, há que saber o que fará com ele. “O Teu Rosto Será o Último”, adaptação ao grande ecrã do romance homónimo de João Ricardo Pedro (prémio Leya 2011, 10 edições em Portugal até agora), é o percurso de Duarte até à idade adulta, atravessando as etapas do crescimento, um percurso de conquistas e de perdas, já que viver é também a arte de nos despedirmos daqueles que amamos. Duarte tem o pai psicologicamente afetado pelo que viveu numa 2ª comissão na guerra em Angola, a mãe com o peso de uma infância traumática, aquela é uma família da qual não ficaria mal dizermos ser um microcosmos do país. Partindo do 25 de Abril e andando em frente, o miúdo é a criatura que pode sair do lodo com que o Estado Novo ainda nos conspurca a alma. Talvez saia, ou não… Entretanto, contudo, o filme é a história individual de uma criança extraordinária.

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