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Cinema: “A Arte de Morrer Longe” de Mário de Carvalho deu um filme

Cinema: “A Arte de Morrer Longe” de Mário de Carvalho deu um filme

Júlio Alves realiza o drama “A Arte de Morrer Longe”, com Pedro Lacerda, Ana Moreira e Custódia Gallego nos principais papéis. O crítico Jorge Leitão Ramos dá-lhe uma estrela

Cinema: “A Arte de Morrer Longe” de Mário de Carvalho deu um filme

Jorge Leitão Ramos

Crítico de Cinema

“A Arte de Morrer Longe” não é um grande livro. Talvez devesse dizer ‘não é um livro grande’, de tal modo que a lombada mal se vislumbra entre “Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde” e “A Paixão do Conde de Fróis”. A ninguém passaria pela cabeça chamar-lhe romance, se bem que dimensão e estrutura excedem bem as de um conto. Novela, portanto — pertencente a uma fase da obra de Mário de Carvalho em que o autor, já com lugar garantido nas letras portuguesas, se diverte com a escrita; e mostra.

Temos, então, uma prosa onde o narrado e o narrador se envolvem, o quotidiano tem lampejos surreais, a história conta bem menos que os rodeios, tudo magnificamente tecido numa suculenta coloquialidade.

E só não digo que se traga de um sorvo porque este tipo de literatura é para consumir devagar, permitindo que as palavras se enrolem na língua, enorme prazer. Por tudo isto se percebe que é o tipo de livro de que convém fugir quando se pensa em fazer cinema. O que é que pode passar da prosa ao ecrã? A anedota. Um homem e uma mulher estão em vias de se separar e dividem os bens do casal. Problema: uma tartaruga que ninguém quer e a que é preciso dar destino. Como história, é curto.

A generalidade da narrativa não tem possível transposição cinematográfica. E o tom geral de ironia precisava de um equivalente fílmico, não materializado. O falhanço deste filme tem cavada raiz na sua génese, na ideia de adaptar a novela em causa.

Acresce, todavia, no labor de Júlio Alves, a frágil definição dos personagens, incongruências de ação (a casa foi afetada por uma tempestade?, não se nota...) ou de lugar (aquela sala de cinema...), até uma certa desarrumação temporal.

O falhanço deste filme tem cavada raiz na sua génese, na ideia de adaptar a novela em causa. Acresce, todavia, no labor de Júlio Alves, a definição dos personagens, incongruências de ação ou de lugar

Exemplos? Os locais de trabalho, os interiores domésticos, os artefactos remetem para um indefinido antanho, de décadas; todavia, há telemóveis e tablets, internet — o tempo é o de agora. Falar do trabalho dos atores é, neste quadro, problemático, não havendo ossatura de personagens, ficam as vinhetas: Pedro Lacerda e Ana Moreira cumprem.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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