
Claire Denis realiza o romance dramático, com Juliette Binoche, Vincent Lindon e Grégoire Colin nos principais papéis. O crítico Vasco Baptista Marques dá-lhe duas estrelas
Claire Denis realiza o romance dramático, com Juliette Binoche, Vincent Lindon e Grégoire Colin nos principais papéis. O crítico Vasco Baptista Marques dá-lhe duas estrelas
O filme arranca em modo idílico, com uma sequência sem diálogos em que um casal de meia idade vai trocando gestos apaixonados no mar. De regresso a Paris, o par instala-se em casa dela para retomar o quotidiano e apresentar-se ao espectador. Ficamos então a saber que estamos perante Sara, uma indistinta radialista, e Jean, um ex-jogador de rugby desempregado que cumpriu uma pena de prisão.
O manto de meias-palavras que o filme tece à volta das personagens é de ordem estratégica: trata-se de criar um clima artificial de mistério, uma narrativa avessa a detalhes que tem a desvantagem de nos fazer sentir que, mesmo que passássemos a vida com aquele casal, jamais chegaríamos a conhecê-lo para lá da epiderme.
O mundo impreciso que o filme assim concebe é o que lhe permite manipular as personagens, quando as mergulha num triângulo amoroso
O mundo impreciso que o filme assim concebe é o que lhe permite manipular as personagens, quando as mergulha num triângulo amoroso, gerado pelo ressurgimento de François: um velho amigo que — sendo embora o ex-amante que Sara nunca conseguiu esquecer — convence Jean a trabalhar para a sua empresa de prospeção de jogadores de rugby.
Sem dúvidas quanto ao desenlace do folhetim passional que se seguirá, o espectador vê-se condenado a assistir ao retorcido bailado de três figuras que são quase sempre demasiado convenientes para poderem suscitar uma aparência de autenticidade. Pelo meio, há ainda o drama paralelo do filho de Jean: um adolescente mestiço sem eira nem beira que vive com a avó, e que Jean quer obrigar a concluir o ensino secundário.
À primeira vista, este segmento da narrativa parece recusar-se a fazer corpo com os demais, mas, atendendo ao número de alusões carcerárias que atravessam o filme (o check-point que Sara tem de cruzar para entrar na rádio...), compreende-se que ele encaixa que nem uma luva no interior de um filme vago sobre vagas formas de aprisionamento.
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