Em 2020, Zeller estreou-se na realização com uma adaptação de “O Pai”: o segundo tomo de uma trilogia teatral da sua própria autoria, habitada por famílias a contas com problemas de saúde mental. Essa trilogia fornece também a matéria-prima textual de “O Filho”, que, apesar do seu título, volta a perfilhar o olhar de um pai.
Trata-se de Peter, um advogado nova-iorquino de meia-idade que, nas primeiras sequências, encontraremos a viver com a sua segunda mulher e o filho recém-nascido num apartamento pintado em tons tão neutros como entristecidos. A tranquilidade do seu quotidiano será abalada quando, inesperadamente, a sua ex-mulher lhe bate à porta com a notícia de que o seu filho de 17 anos (Nicholas) deixou de ir ao liceu e se tem mostrado impermeável a tentativas de diálogo.
Não será preciso esperar muito até que ele assente arraiais em casa do pai, que, a despeito dos seus esforços, parece ser incapaz de se fazer cúmplice de um adolescente hermeticamente fechado sobre si mesmo e em cuja pele se vão acumulando óbvios sinais de depressão (ele confessa que se automutila). O problema é que, ao adotar o ponto de vista de Peter, o filme acaba por ficar do lado menos interessante da história, reduzindo Nicholas à sua condição de filho (de um pai que não o percebe) e forçando-o por isso a existir apenas como uma cifra, como um corpo estranho em cuja intimidade nunca somos convidados a entrar.
A exterioridade da câmara compromete fatalmente a autenticidade de Nicholas, cujos gestos são demasiado exemplares (porque demasiado ilustrativos dos tiques do adolescente em crise depressiva) para poderem transcender o patamar da representação genérica. No que toca à gestão da narrativa, Zeller não se mostra mais inspirado: algures a meio, é revelada a existência de uma caçadeira escondida na casa de banho do apartamento, num anúncio que denuncia — com cerca de uma hora de antecedência — o inevitável desfecho deste tosco filme fatalista.
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